AMARRIBO Brasil discute transparência das multinacionais brasileiras

A AMARRIBO Brasil, em parceria com a Transparência Internacional (TI), a GIZ e o Instituto Ethos, organizou, no último dia 11, o diálogo “Transparência Corporativa: como está o desempenho das multinacionais nos mercados emergentes?”.

O evento contou com executivos de áreas jurídicas e de compliance de diferentes empresas, algumas delas avaliadas no recente estudo desenvolvido pela Transparência Internacional sobre o tema (TRAC – Transparency in Corporate Reporting: Assessing Emerging Market Multinationals). O objetivo foi debater os avanços, desafios e caminhos na melhoria da transparência corporativa.

Josmar Verillo, conselheiro da AMARRIBO Brasil abriu o evento falando sobre o papel das empresas no combate à corrupção. “Temos visto cada vez mais casos de empresas agindo para prevenir a corrupção e também a denunciando, mesmo internamente. Está claro que a corrupção não é apenas moralmente errada e prejudicial para a sociedade, mas também nociva para as empresas. Em ambiente em que predomina a corrupção dificilmente prosperam projetos de desenvolvimento econômico e social”, disse. Em seguida, Markus Beck, da GIZ, deu as boas-vindas, apresentou o trabalho da organização e falou sobre a importância das parcerias e diálogos entre agências, empresas e sociedade civil para melhorar a transparência no setor privado. 

Susan Côté-Freeman, gerente do Programa Setor Privado da Transparência Internacional, apresentou os resultados do relatório e sua metodologia. Freeman ressaltou que o nível de transparência observado nas empresas nas empresas de todo o mundo, e não só nas brasileiras, está aquém dos padrões esperados para grandes companhias e que esse deve ser um ponto de melhoria a ser trabalhado. “Faltam, principalmente informações financeiras em bases comparativas nos diferentes países onde as empresas atuam. Sem esses dados, não se constrói uma boa governança com gestão de risco contra a corrupção”, alertou ela.

Em seguida cada eixo do relatório foi discutido pelos participantes. Diversas sugestões para a metodologia da pesquisa foram apresentadas pelos participantes e desafios foram colocados. Na discussão sobre o eixo ‘Programas Anticorrupção’ o olhar da empresa para a questão da transparência e do combate à corrupção foi comparado pelos participantes aos programas de qualidade e de responsabilidade social que no passada também tiveram grandes barrerias para serem implementados e, hoje, estão incorporados às operações das empresas. “Provavelmente em breve esse tema já não será motivo de discussão e estará incorporado à cultura organizacional”, disse Pyter Stradiotto, Diretor de Compliance da Embraer.

Os participantes também apontaram que transparência não é sinônimo de honestidade, e sim um mecanismo para prevenção e combate à corrupção. Os programs de compliance são importantíssimos, mas precisam sair do papel e serem executados desde o mais alto nível dentro da empresa. As empresas terão que estar preparadas para se posicionar e tomar decisões difíceis, como até mesmo deixar de fazer um determinado negócio, pois não existe corrupto sem corruptor.

Toda empresa quer trabalhar num ambiente justo onde as regras são as mesmas para todos. Para Stradiotto “é como um jogo de futebol, onde as regras são claras e se o seu time perde você aceita, pois as regras foram bem definidas antes e todos sabiam que quem fizesse mais gols ganharia. Porém, se depois de perder o jogo você descobre que o juíz foi comprado você não aceita a derrota e de nada valeram as regras. É a mesma coisa no mundo dos negócios. Regras claras dão mais tranquilidade”.

No eixo 2, Transparência Organizacional, ficou claro que ainda falta um arcabouço legal para incentivar a divulgação de determinadas informações e demonstrar os benefícios que a transparência pode trazer. A mesma conclusão foi feita na discussão do eixo 3, Relatórios por País. A falta de incentivos e requerimentos legais podem ser fatores que contribuam para que a divulgação de relatórios por países ainda não sejam adotadas na prática, além do fato de que, para alguns participantes, revelar determinadas informações pode ser anticompetitivo para as empresas. Porém, o relatório demonstra que as companhias com bom desempenho na divulgação de informações financeiras e socioambientais não perderam competitividade, pelo contrário, até a ampliaram.

Para Marina Ferro, do Instituto Ethos “a empresa precisa estar próxima de seus públicos de interesse para entender quais informações são importantes a eles e divulgá-las. Com isto, melhora sua transparência e cumpre a função de manter a sociedade informada a respeito das suas atividades e impactos”.

Os grupos também concluíram que as práticas de transparência precisam ser encorajadas em toda a cadeia produtiva, com os grandes liderando os pequenos nesta empreitada. As boas práticas das maiores companhias brasileiras devem ser discutidas e compartilhadas entre todas as empresas, de qualquer natureza e porte, para o avanço de uma nova cultura de gestão no país, em favor da transparência e da publicidade das informações.

“Os feedbacks recebidos neste encontro são fundamentais para a evolução do relatório. As empresas possuem um papel muito importante e o objetivo é avançarmos juntos. Precisamos garantir que o mercado opere dentro da regra”, disse Freeman.

“Organizamos este evento não só para debater como também para escutar o setor privado, entender os desafios, estreitar laços e parcerias, não só para as empresas se tornarem mais transparentes, mas para construirmos um país cada vez mais íntegro”, concluiu Verillo.

O Estudo

O estudo da Transparência Internacional foi baseado numa coleta de dados orientada por um questionário dividido em três eixos:

  1. Programas Anticorrupção, que avalia o as políticas de prevenção da corrupção e compliance das empresas;
  2. Transparência Corporativa, que analisa a divulgação das informações operacionais da empresa, tais como estruturas de controle acionário e filiais;
  3. Operações Financeiras (Relatórios por País), que avalia a publicação de informações financeiras entre os países onde as empresas atuam.

As empresas brasileiras foram bem avaliadas no primeiro eixo, com média de 5,4. No segundo eixo, as companhias obtiveram 4,5 pontos, mas quatro delas tiraram a maior nota alcançada nessa variável: 7,5. Foram Embraer, Gerdau, Marcopolo e Natura. No último eixo, sobre relatórios por país, as empresas brasileiras tiveram um mau desempenho; muitas tiraram zero e, com, isso, baixaram a própria nota e a nota do país.

Como a maioria das empresas dos demais países, as brasileiras ficaram com a média geral abaixo de 5. A Marcopolo foi a companhia brasileira mais bem classificada, com 4,6 pontos.

Das 13 empresas brasileiras avaliadas, 4 são signatárias do Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção, iniciativa do Instituto Ethos em parceria a Controladoria Geral da União (CGU) e Pacto Global da ONU: Brasil Foods, Gerdau, Natura e Petrobras, que ficaram entre as 6 empresas brasileiras melhor avaliadas. Ao se tornarem signatárias do pacto, elas assumiram o compromisso de vedar qualquer forma de suborno, trabalhar pela legalidade e transparência nas contribuições e campanhas políticas e primar pela transparência de informações, assim como divulgar a legislação brasileira anticorrupção para seus funcionários.

Das 100 empresas analisadas, 75 eram empresas dos BRICs, o grupo de países formados por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que contribuíram em 50% no crescimento mundial desde a crise econômica de 2008. Entre os cinco países dos BRICs, a Índia foi aquele com as empresas mais bem avaliadas, obtendo a nota média de 5,4. O Brasil ficou em quarto lugar, 3,4 pontos de média, acima apenas das empresas chinesas que tiveram média 2.

O relatório completo está disponível em: http://www.transparency.org/whatwedo/pub/transparency_in_corporate_reporting_assessing_emerging_market_multinational

Histórico

Transparência Internacional divulgou relatórios semelhantes sobre as 105 maiores empresas do mundo em 2012, e em 2011 o relatório focou no setor de petróleo e gás.

A Amarribo Brasil é a representante da Transparência Internacional no Brasil.

Informações para Imprensa

Nicole Verillo – nicoleverillo@amarribo.org.br 

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Corrupção rouba até 2,3% do PIB brasileiro

As manifestações de junho do ano passado continuam rendendo frutos, e a lei anticorrupção, que punirá empresas envolvidas em atos ilícitos contra o poder público, é um deles. A nova legislação passa a valer nesta semana e pretender ser mais uma ferramenta para estancar o dreno de recursos que a corrupção representa no Brasil. Um estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), elaborado em 2012, projetava que entre 1,38% e 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) se perdiam entre ações corruptas no país. Levando em conta o último PIB consolidado disponível, do ano de 2012, que fechou em 4,4 trilhões de reais, isso equivale a, no mínimo, uma perda nominal entre 61,7 bilhões reais e 101,2 bilhões de reais.

Não se sabe ao certo se esse número é próximo da realidade, até porque é difícil captar atos ilícitos que estão em andamento neste exato momento, nos subterrâneos do poder e das corporações. Mas, independentemente dos valores envolvidos, a corrupção é uma praga que revolta os brasileiros, que pagam impostos compulsoriamente, e não recebem seus benefícios de volta. O quadro atual coloca o país na posição 72, entre 177 países no mundo, no Índice de Percepção da Corrupção (Corruption Perception Index), de 2013, elaborado pelo grupo Transparency International. A lei, recém inaugurada, vai punir empresas envolvidas em atos que venham a lesar o erário do Estado, em todas as esferas, como suborno de funcionários do poder público.

Ou seja, com anos de atraso, o Brasil passa a punir também as empresas que corrompem, e não só o agente corrupto. “Esta lei vem fechar um quebra-cabeça fundamental”, afirma Pierpaolo Cruz Bottini, professor-doutor de direito penal da Universidade de São Paulo. “Até agora as punições estavam direcionadas à pessoa física. Processava-se o funcionário, o dirigente público e a empresa ficava impune. Agora, ela será punida de forma objetiva, não importa se sabia ou não das falcatruas em andamento. Se foi beneficiada, ela será multada”, explica Bottini.

Inspirada nas regras já vigentes em países como os Estados Unidos (com o Foreign Corruption Practice Act) e a Inglaterra (Bribery Act), a nova legislação estabelece multas de que variam de 0,1% a 20% do faturamento bruto da empresa processada, nunca abaixo da vantagem obtida, caso esta seja auferida. Se não for possível levantar essa cifra, a previsão é de aplicação de multa variável entre 6.000 reais e 60 milhões de reais. E no limite, instaura a figura da “pena de morte” da pessoa jurídica, ou seja, estabelece a possibilidade de dissolver uma empresa envolvida em delitos. “É uma lei extremamente pertinente ”, celebra Leo Torresan, da Amarribo, organização sem fins lucrativos de combate à corrupção.

Mais do que isso, passa a punir os agentes da cadeia de valor de uma companhia. Se algum fornecedor estiver envolvido em ações nebulosas, a sua contratante é alvo da lei. Assim, a atuação de consultorias, despachantes, ou empresas fictícias criadas com o único fim de obter vantagens financeiras torna-se evidência objetiva, passível de pena severa. Esse aspecto da nova lei é elogiado pelo promotor Marcelo Mendroni, do Grupo de Atuação Especial de Repressão à Formação de Cartel e à Lavagem de Dinheiro e de Recuperação de Ativos (Gedec), do Ministério Público de São Paulo. “A lei vem preencher uma lacuna importante. As empresas fictícias são o meio mais utilizado para a lavagem de dinheiro no Brasil”, diz o promotor, que cuida do caso de formação de cartel de empresas fornecedoras de material para o metrô de São Paulo, que inclui as multinacionais Siemens e Alstom.

O cartel do metrô no Estado paulista foi denunciado, em delação premiada, pela própria Siemens no ano passado, revelando supostos subornos a agentes públicos, e também a atuação de empresas prestadoras de serviço que faziam a ponte entre a multinacional e funcionários públicos. Também em São Paulo, está em curso uma investigação, levantada pela Controladoria Municipal, sobre a atuação de 30 construtoras suspeitas de terem pago 29 milhões de reais em propinas para auditores fiscais da Prefeitura de São Paulo, em troca de um desconto de 50% no valor total de um imposto municipal.

Para José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da a corrupção afeta negativamente a atividade econômica e a competitividade do país como um todo. “Ela aumenta o custo do investimento produtivo, prejudica a estabilidade do ambiente de negócios, inibe os investimentos externos, diminui a arrecadação e altera a composição dos gastos governamentais, além de distorcer a concorrência, e abalar a confiança no Estado”, afirma. O estudo da Fiesp aponta que, no mínimo, a corrupção equivale a 7,6% do investimento produtivo na economia, ou  a 22,6% do gasto público em educação nas três esferas.

A nova legislação já movimenta o mundo corporativo brasileiro, que vai procurar se adaptar às novas exigências. Para Pablo Cesário, gerente-executivo da Confederação Nacional da Indústria, as empresas, a partir de agora, devem adotar programas de combate à corrupção. Mas, Cesário chama a atenção para um fato importante para onde a legislação precisa avançar. “Compete ao Estado proteger empresas que denunciem atos de corrupção praticados por agentes públicos, prevenindo eventuais retaliações”, diz Cesário. Ou seja, as empresas devem ter espaço para denunciar um gestor público que venha a solicitar dinheiro em troca de alguma autorização ou licença que compete ao poder público liberar para a companhia.

No Brasil, várias empresas que tentaram denunciar achaques de funcionários públicos, inclusive na mídia, passaram a ser “perseguidas” por fiscalizações exageradas. Além disso, a falta de punição frustrava empresários, que preferiam aceitar o pedido de suborno a atrasar projetos em andamento por falta de algum documento. Uma pesquisa sobre corrupção revela que só 50% das empresas no país acreditam que denunciar pedidos de propina de funcionários públicos surtem efetivamente efeito.

O promotor Marcelo Mendroni também sublinha a necessidade de fortalecer o próprio corpo da Justiça e o treinamento de seus funcionários lei para que ela possa ser aplicada. “As três engrenagens precisam funcionar juntas: legislação, estrutura e treinamento”, diz. Cabe também à sociedade o papel de cobrar a sua execuação, avalia o cientista político Wagner Pralon. “Muitas vezes a vontade popular coloca alguns itens, como este, na pauta, mas é preciso manter a antenas ligadas”, afirma. Em outras palavras, a nova lei anticorrupção é um passo muito importante, mas é só o começo de um caminho longo pela frente.

Fonte: Carla Jimenéz/EL PAÍS. Originalmente publicado em http://brasil.elpais.com/brasil/2014/01/28/politica/1390946330_078051.html

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Lei Anticorrupção entra em vigor nesta quarta-feira

Hoje, 29, entra em vigor a Lei Anticorrupção, que responsabiliza e passa a permitir a punição de empresas envolvidas em atos de corrupção contra a administração pública nacional e estrangeira. A legislação é um marco e mais uma importante medida para a prevenção e o combate à corrupção. Além das responsabilizações e sanções, a Lei pretende inibir e prevenir ações corruptas.

No aspecto repressivo, multas pesadas serão aplicadas a empresas que oferecem ou pagam propina a servidores e fraudam licitações, a sentença será publicada nos veículos de comunicação. A punição é administrativa, aplicada diretamente pelos governos, sem passar pelo Judiciário. Do lado investigativo, a Lei oferece benefícios para as empresas que admitem os ilícitos e colaboram com delações ou provas, podendo assim reduzir a multa. A existência e aplicação de programas e políticas de compliance (controle ético e de obediência às leis) nas empresas também contribuirá para a redução das multas.

A aplicação do dispositivo é feita pelo governo federal, que através da Controladoria-Geral da União, orienta os ministérios e demais órgãos. Cada Estado e município deverá regulamentar a lei. Alguns pontos da Lei ainda deverão ser regulamentados pelo governo federal, através de um decreto, como os critérios dos programas de compliance e critérios para atenuar ou agravar a punição, por exemplo. Definir um código de ética claro e objetivo que seja aplicado pela gerência e colaboradores é a melhor forma das empresas se protegerem da corrupção.

Mudança de cultura

Um dos principais fatores que permitem que a corrupção não entre nas empresas é a conduta ética dos profissionais. Por isso, é importante que seja elaborado um eficaz código de ética que esteja de acordo com a atuação da empresa e que seja aplicado por todos, desde os colaboradores até gerência e acionistas.

Para o Vice-Presidente do Conselho da AMARRIBO, Josmar Verillo, a Lei representa um grande avanço para a democracia brasileira. As empresas precisam se preparar, melhorando o nível de governança, adotando valores e códigos de conduta. “Se a empresa tiver boa governança e comprovar isso em uma eventual ilegalidade praticada por um funcionário, a empresa pode ter a sua punição atenuada. Se ela cooperar com a investigação, também pode ser beneficiada com redução das punições”, disse.

Além disso, as empresas precisam estar preparadas para responder às críticas e dúvidas. “Lidar com isso dá trabalho, porém é um aprendizado e faz parte da mudança de cultura para que essa transparência seja normal e se torne uma vantagem, caso contrário será um problema”, enfatizou Verillo.

Interesse em ser transparente

Empresas de capital aberto possuem legislação que exige a divulgação de dados e informações de processos e transações, porém, ainda não é comum pensar em transparência de forma geral em todas as empresas. As práticas de transparência das empresas avaliadas no mundo todo ainda são inadequadas.

Em 2013, a Transparência Internacional, organização que a AMARRIBO representa no Brasil, publicou o Transparency in Corporate Reporting: Assessing Emerging Market Multinationals (TRAC), estudo sobre a transparência das empresas multinacionais dos mercados emergentes. O TRAC pontuou 100 das empresas que cresceram mais rápido nos últimos anos, sediadas em 16 países de mercados emergentes, sendo 13 delas brasileiras. Das empresas analisadas, 75% obtiveram pontuação menor que 5, numa escala de 0 a 10, onde 0 é o menos transparente e 10 é o mais transparente.

Os níveis de transparência observados ainda estão aquém dos padrões esperados de grandes empresas. Com a notável exceção das indianas, a maioria das empresas está muito longe de divulgar informações financeiras em todos os países onde operam. A maioria revela pouco ou nenhum dado financeiro em uma base comparativa, e as empresas da China são as que menos divulgam este tipo de informação. O relatório aponta também que as empresas de capital aberto tiveram melhor desempenho do que as empresas estatais e de capital fechado, ilustrando o impacto positivo que os requisitos de divulgação impostos às empresas de capital aberto têm sobre a transparência.

Este resultado reflete a falta de reconhecimento da importância da transparência na construção da boa governança, incluindo a gestão de riscos de corrupção. No entanto, o fato de algumas empresas apresentarem bom desempenho em certos aspectos da pesquisa indica que a melhoria é possível e invalida o argumento de que a divulgação coloca a empresa em desvantagem competitiva.

Para a presidente da Transparência Internacional, Huguette Labelle não há dúvidas sobre a importância da atuação dessas multinacionais. “À medida que as empresas de mercados emergentes expandem sua influência, devem aproveitar a oportunidade para aumentar seus esforços a fim de acabar com a corrupção internacionalmente. Empresas operando globalmente, sem transparência, correm o risco de danificar sua marca e perder a confiança das comunidades locais. As pessoas têm o direito de saber o que as multinacionais pagam em impostos bem como quaisquer outros valores pagos ao seu governo”, disse.

As boas práticas das multinacionais brasileiras bem pontuadas devem ser discutidas e compartilhadas entre as empresas para a busca de maior transparência. Sempre houve uma cultura do sigilo no Brasil, mas agora já se notam mudanças em favor da publicidade e transparência, e muitas empresas brasileiras já estão, de fato, demostrando esta preocupação.

“O debate é extremamente importante e nós sabemos que existem muitas dificuldades na cultura organizacional para a publicação de determinadas informações. Por outro lado, as empresas estão interessadas em melhorar suas práticas e para isso queremos escutá-las e discutir as melhores práticas, mas também as principais dificuldades para os avanços na transparência corporativa”, disse Leo Torresan, presidente da AMARRIBO Brasil.

Informações para Imprensa
Nicole Verillo – nicoleverillo@amarribo.org.br

 

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É hora das empresas combaterem a corrupção

A Transparência Internacional – representada no país pela Amarribo Brasil – divulgou hoje, 17, estudo sobre a transparência das empresas multinacionais dos mercados emergentes.

O TRAC – Transparency in Corporate Reporting: Assessing Emerging Market Multinationals (Transparência na Informação Corporativa: avaliando Multinacionais Nos Mercados Emergentes), pontuou 100 das empresas que cresceram mais rápido nos últimos anos, sediadas em 16 países de mercados emergentes, sendo 13 delas brasileiras. O estudo ainda conta com uma sessão dedicada aos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Das empresas analisadas, 75% obtiveram pontuação menor que 5, numa escala de 0 a 10, onde 0 é o menos transparente e 10 é o mais transparente. A avaliação é feita exclusivamente com base nas informações e documentos disponíveis no site de cada uma das empresas. A coleta de dados foi orientada por um questionário que avalia três eixos: Desenvolvimento de medidas e programas anticorrupção, que avalia o as políticas de prevenção da corrupção e compliance das empresas; Transparência corporativa, que analisa a divulgação das informações operacionais da empresa, tais como estruturas de controle acionário e filiais; Operações Financeiras, que avalia a publicação de informações financeiras entre os países onde as empresas atuam.

Das 100 empresas avaliadas, 75 são empresas dos BRICS, que contribuíram em 50% no crescimento mundial desde a crise econômica. Dentre os cinco países BRICS, a Índia foi melhor avaliada, obtendo a nota média de 5,4. A China teve o pior desempenho, com média 2, e o Brasil ficou em 4º lugar, com 3,4 pontos de média.

 

 

 

As empresas brasileiras foram melhor avaliadas no primeiro eixo, Desenvolvimento de Medidas e Programas Anticorrupção, com a pontuação média de  5,4. A empresa com melhor pontuação foi a Petrobrás, com 8,8 pontos, e a menor pontuação foi do Grupo Odebrecht, com zero ponto.

 

No segundo eixo, Transparência Corporativa, o Brasil obteve 4,5 pontos de média. Quatro empresas receberam 7,5 pontos, a maior nota alcançada, são elas: Embraer, Gerdau, Marcopolo e Natura. Porém, no último eixo, sobre as Informações Financeiras, as empresas brasileiras tiveram um mau desempenho, com 3 pontos de média. A maior pontuação alcançada foi 4 pontos pela Gerdau. Diversas empresas obtiveram zero ponto, o que demonstra que a transparência das transações financeiras ainda é mínima no país.

No ranking geral, assim como a maioria das empresas avaliadas, todas as brasileiras ficaram com a média das três categorias analisadas abaixo de 5, variando entre 4,6 a 0,2. A empresa melhor avaliada foi a Marcopolo.

 

 

 

Apesar de apresentar alguns resultados encorajadores, o relatório conclui que as práticas de transparência das empresas avaliadas no mundo todo ainda são inadequadas. Os níveis de transparência observados estão aquém dos padrões esperados de grandes empresas. Com a notável exceção das indianas, a maioria das empresas está muito longe de divulgar informações financeiras em todos os países onde operam. A maioria revela pouco ou nenhum dado financeiro em uma base comparativa, e as empresas da China são as que menos divulgam este tipo de informação.

 

Este resultado reflete a falta de reconhecimento da importância da transparência na construção da boa governança, incluindo a gestão de riscos de corrupção. No entanto, o fato de algumas empresas apresentarem bom desempenho em certos aspectos da pesquisa indica que a melhoria é possível e invalida o argumento de que a divulgação coloca a empresa em desvantagem competitiva.

As boas práticas das multinacionais brasileiras bem pontuadas devem ser discutidas e compartilhadas entre as empresas para a busca de maior transparência. Sempre houve uma cultura do sigilo no Brasil, mas agora já se notam mudanças em favor da publicidade e transparência, e muitas empresas brasileiras já estão, de fato, demostrando esta preocupação.

Durante a realização do estudo todas as empresas foram contatadas e convidadas a enviarem suas contribuições. Das 100 multinacionais avaliadas somente 17 deram um retorno para a Transparência Internacional, contribuindo para o avanço do estudo, dentre estas, 5 brasileiras: Brasil Foods, Gerdau, Natura, Petrobrás e Grupo Votorantim. Esse envolvimento das empresas no processo de revisão de dados contribuiu para a qualidade do relatório e uma melhor compreensão da diversidade de práticas anticorrupção.

“O debate é extremamente importante e nós sabemos que existem muitas dificuldades na cultura organizacional para a publicação de determinadas informações. Por outro lado, as empresas estão interessadas em melhorar suas práticas e para isso queremos escutá-las e discutir não só a metodologia do estudo e as melhores práticas, mas também as principais dificuldades para os avanços na transparência corporativa”, disse Leo Torresan, presidente da AMARRIBO Brasil. A organização, representante da Transparência Internacional no país, pretende realizar um debate com as empresas sobre o tema, para que o país avance e que o setor privado exerça cada vez mais seu papel na luta anticorrupção.

Das 13 empresas brasileiras avaliadas, 4 assinaram o Pacto Empresarial pela Integridade e Contra a Corrupção, do Instituto Ethos em parceria com a Controladoria-Geral da União: Brasil Foods, Gerdau, Natura e Petrobras, que ficaram entre as 6 empresas brasileiras melhor avaliadas. Ao se tornarem signatárias do pacto, elas assumiram o compromisso de vedar qualquer forma de suborno, trabalhar pela legalidade e transparência nas contribuições e campanhas políticas e primar pela transparência de informações, assim como divulgar a legislação brasileira anticorrupção para seus funcionários.

O relatório aponta também que as empresas de capital aberto tiveram melhor desempenho do que as empresas estatais e de capital fechado, ilustrando o impacto positivo que os requisitos de divulgação impostos às empresas de capital aberto têm sobre a transparência.

Além da Lei de Acesso à Informação, que pondera sobre empresas públicas e sociedades de economia mista, o Brasil conta com a recente Lei 12.846 sobre Responsabilidade Civil e Administrativa de Pessoa Jurídica, a qual legisla sobre empresas envolvidas em atos contra a administração pública, com mecanismos de responsabilização nas esferas civil e administrativa.

Para a presidente da Transparência Internacional, Huguette Labelle não há dúvidas sobre a importância da atuação dessas multinacionais. “À medida que as empresas de mercados emergentes expandem sua influência, devem aproveitar a oportunidade para aumentar seus esforços a fim de acabar com a corrupção internacionalmente. Empresas operando globalmente, sem transparência, correm o risco de danificar sua marca e perder a confiança das comunidades locais. As pessoas têm o direito de saber o que as multinacionais pagam em impostos bem como quaisquer outros valores pagos ao seu governo”, disse.

O relatório completo está disponível no http://www.transparency.org

Histórico:
Transparência Internacional divulgou relatórios semelhantes sobre as 105 maiores empresas do mundo em 2012, e em 2011 o relatório focou no setor de petróleo e gás.

A Amarribo Brasil é a representante da Transparência Internacional no Brasil.

Informações para Imprensa:
Nicole Verillo – nicoleverillo@amarribo.org.br – 11 9 9171-1164

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