Audiência pública encerra XII Marcha Contra a Corrupção e Pela Vida

Após 15 dias de caminhada marchantes dão continuidade aos trabalhos iniciados no sertão.

Por Lírian Pádua*

Na semana passada, dia 23 de julho, foi encerrada a XII Marcha Contra a Corrupção e Pela Vida, organizada pela Força Tarefa Popular, que acontece todos os anos no sertão do estado do Piauí. A Marcha durou 15 dias, percorreu 150 km e passou por seis cidades e dois povoados.

O encerramento foi realizado em audiência pública na Câmara Municipal de São Raimundo Nonato, Piauí, última cidade por onde passou a Marcha. No evento estavam presentes dezenas de cidadãos, vereadores, integrantes da Rede AMARRIBO Brasil-IFC e da ABRACCI, representante da Transparência Internacional e da Controladoria-Geral da União (CGU).

Nos próximos dias serão divulgados os relatórios referentes às cidades de Caracol, Jurema, Anísio de Abreu, São Braz e São Raimundo Nonato. Segundo o organizador da marcha, Arimatéia Dantas, a Marcha continua. “Depois do contato direto com a realidade e colhendo informações entramos na segunda parte da Marcha que será analisar o que foi visto e as denuncias recebidas. Um momento muito importante onde se formata decisões sobre o que fazer”, disse Dantas.

Para a representante da Transparência Internacional, Luciana Torchiaro, a Marcha é uma experiência impressionante e que deve ser replicada em outros países. “A corrupção aqui no sertão é muito grave e é desumana. Queremos levar a experiência da Força Tarefa Popular para todo o mundo”, revelou.

Na audiência foi apresentado um estudo realizado pela Transparência Internacional que mostra os custos da corrupção. Segundo Luciana, de 20 a 70% dos recursos investidos em água potável no mundo são desviados. “Com transparência e controle social esses desvios podem ser evitados”, ressaltou.

Durante a audiência foi entregue a denúncia sobre a situação de Guaribas – primeiro município visitado pelos marchantes – ao Chefe da Controladoria Regional da União no Estado do Piauí, Orlando Castro. De acordo com Castro, fiscalizar não é difícil. A orientação é para que o cidadão fique atento, anote as informações que constam na placa de uma obra e tire fotos, por exemplo. Além disso, ele ressaltou que os munícipes também podem encontrar informações no Portal da Transparência. “É importante que o controle social aconteça e que essas informações cheguem aos nossos olhos. Todas as denúncias apresentadas aqui serão devidamente apuradas”, comprometeu-se.

Para Orlando, o problema do Piauí não é carência de recursos financeiros. “Como cidadão fico impressionado com a quantidade de verba que vem do nosso Estado e como as pessoas continuam sem água, como as escolas continuam sem merenda, e os postos de saúde sem remédio. Por incrível que pareça não é por falta de recursos”, disse.

De acordo Nicole Verillo, da AMARRIBO Brasil, agora começa uma nova etapa da Marcha. “Iremos finalizar o relatório com todas as denúncias, enviar a todos os órgãos responsáveis e acompanhar. Também pretendemos dar continuidade a formação dos cidadãos das cidades em que passamos, fornecendo todo o apoio necessário para que eles sigam exercendo o controle social e garantindo a qualidade de vida em seus municípios”, disse.

Para Luciana, o controle social por parte dos cidadãos é fundamental. “O Brasil possui uma boa legislação, como a recente Lei de Acesso à Informação e a Lei da Ficha Limpa. Não faltam instrumentos, o que precisa ser feito é aplicá-los, colocá-los em prática através do exercício do controle social. É isso que a Marcha se propõe. “A transparência, sozinha, não é suficiente para se combater a corrupção. A participação cidadã e o controle social são fundamentais”, concluiu.

Para Arimatéia, o governo deve fazer uma campanha nacional que estimule e ensine a população a fiscalizar as contas públicas, hoje somente a sociedade civil organizada se preocupa com isso. “Iremos construir núcleos de fiscalização nos municípios para darem continuidade ao processo de controle social iniciado pela Marcha. Vamos articular com a ABRACCI, AMARRIBO Brasil, IFC e Transparência Internacional, uma audiência com a Presidente Dilma para apresentar o que vimos e denunciar diretamente a negligencia com o erário federal nos municípios visitados, propondo uma parceria mais direta dos órgãos como TCE, CGE e CGU com a população para a fiscalização”, relatou Dantas.

 

Luciana Torchiaro, representante da Transparência Internacional (Foto: Lírian Pádua) Arimatéia Dantas, coordenador da Marcha (Foto: Lírian Pádua)

 

Sobre a Marcha

A XII Marcha Contra a Corrupção e Pela Vida é um movimento da Força Tarefa Popular, que envolve cidadãos, ONGs, sindicatos e toda a sociedade civil, visando promover o controle social e combater a corrupção. Neste ano, a marcha começou no dia 10 de julho e percorreu seis municípios do semiárido piauiense, dois povoados e diversas comunidades no sul do Estado. O tema escolhido foi a Seca.

Durante a caminhada os ativistas encontraram irregularidades e mau uso do dinheiro público, como construções  inacabadas, Câmara de Vereadores fechadas, furtos de caixas d'água públicas, obras abandonadas e até livros didáticos de 2013 lacrados e abandonados, impedindo o acesso a estudantes.

Para o organizador da marcha, Arimatéia Dantas, é importante trazer para o debate público a ineficiência nas obras em relação à seca. "É muito cruel a forma como tratam o sertanejo, inviabilizando o acesso a água, como no caso das adutoras em que foram gastos milhões e estão paradas”, lamentou.

O intuito dos voluntários que caminham pelas cidades do interior do Piauí é de fiscalizar obras, contas públicas e incentivar a população a fazer o controle social como forma de prevenir a corrupção. Somando todas as edições os marchantes já andaram mais de 2750 quilômetros. Este ano participaram da marcha, voluntários do Piauí, Brasília, Bahia, Ceará, São Paulo e até da Argentina.

Após a fiscalização em cada município, o grupo da Força Tarefa Popular apresentava aos moradores a situação da cidade e ministrava uma aula de cidadania, estimulando a população a fiscalizar os gastos públicos.

Veja aqui mais fotos da Marcha: http://migre.me/fDNnB

Distribuição livro "O Combate à Corrupção nas Prefeituras do Brasil" (Foto: Lírian Pádua)   Entrega do relatório de denúncias para a CGU (Foto: Lírian Pádua)

 

*Lírian Pádua é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalista e voluntária da ONG BATRA – Bauru Transparente, integrante da Rede AMARRIBO Brasil-IFC.

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Obras fantasmas e mau uso do dinheiro público dificultam a vida de sertanejas

Por Lírian Pádua*

A 12ª “Marcha Contra Corrupção e Pela Vida” continua a caminhada pelas cidades do sertão do Piauí. Na semana passada, os voluntários fiscalizaram obras e ministraram aulas de cidadania nos municípios de Jurema, Anísio de Abreu, São Braz e São Raimundo Nonato. Além dessas cidades, a marcha também passou por diversas comunidades e, em cada local visitado, foi constatado o gravíssimo problema de falta de água, saneamento básico e a mínima estrutura para a sobrevivência e desenvolvimento da população do semiárido. Apesar da dificuldade, tivemos a oportunidade de conhecer um povo forte, e, principalmente mulheres que não medem esforços para sobreviver.

Além dos obstáculos da vida, a aposentada Aldenira da Rocha Oliveira, 66, também sofre com a corrupção na comunidade Caldeirãozinho, na cidade de Jurema. De acordo com informações da Funasa, Aldenira foi contemplada com uma obra de melhorias sanitárias. Assim como ela, no projeto da fundação, outras 80 casas deveriam receber banheiros. Porém, muitos moradores sequer receberam a visita de um funcionário do governo para fazer as medições e dar início às obras, mas nas documentações da Funasa o banheiro de Aldenira está pronto para uso.

“Nunca fizeram esse banheiro em casa. Há alguns anos meu marido teve câncer de próstata e eu mesma precisei construir o banheiro”, contou Aldenira. Hoje viúva, a aposentada trabalha na roça para complementar a renda de casa. “Caminho uma légua todos os dias até a plantação. Neste ano, não produzimos nada por causa da seca, mas mantemos a esperança”, disse.

A confiança de Aldenira também se estende ao um governo melhor através da conscientização da população. “Não vendo meu voto. Eu voto é por benefícios na nossa cidade. Não gosto de ver coisa errada, por isso digo que votar é uma obrigação dos honestos”, enfatizou.

No povoado de Novo Horizonte, município de São Raimundo Nonato, o mau uso dinheiro público dificulta a vida de Maria de Oliveira Ribeiro, 81, que também vive sob uma situação climática extrema do semiárido brasileiro. “Essa é a pior seca que estou enfrentando”, lamentou.

O sofrimento de Maria poderia acabar se ela recebesse água da adutora que fica em frente a sua casa. A obra custou mais de R$ 1,5 milhão e era prevista para atender cerca de mil famílias, num raio de 80 quilômetros, porém nenhuma água passa pelos canos. “Dentro da caixa não tem mais água, só ar”, disse Maria.

Segundo ela, após a obra ser concluída, em 2011, as caixas enchiam de água e até transbordava. “Formava um rio em frente de casa, mas a água não passava pelos canos para chegar a outras famílias”, contou a aposentada.

Hoje, com adutora sem funcionar e as caixas de água vazias, Maria aguarda a cada três meses a vinda de um caminhão pipa. Recebendo uma média de 10 mil litros por vez, ela e toda a família têm pouco mais de 100 litros de água para utilizar durante o dia. “Essa água é só para beber, cozinhar e escovar os dentes. Não temos para as plantas e animais”, contou.

*Lírian Pádua é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalista e voluntária da ONG BATRA – Bauru Transparente, integrante da Rede AMARRIBO Brasil.

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Um oásis no sertão: família encontra água e se torna independente

Por Lírian Pádua*

A existência da indústria da seca foi confirmada na 12ª “Marcha Contra a Corrupção e Pela Vida”, realizada entre os dias 10 a 24 de julho no Brasil. Durante o percurso entre os municípios Caracol e Jurema, que fazem parte das seis cidades do sertão do Piauí que estão no roteiro dos marchantes, uma realidade diferente da seca foi presenciada pelos voluntários. De um lado uma terra rica que produz diversos alimentos e é o sustento de uma família inteira e em menos de 200 metros uma propriedade mantém uma das tristes imagens da seca: um lago sem uma gota de água e com o chão completamente rachado.

A enorme discrepância foi vista no bairro Pitombeiras, em Caracol. A paisagem verde se destacou no meio das cores mortas do sertão. Alface, couve, tomate, pimenta, melancia e diversas outras frutas, verduras, legumes e até flores nascem do solo piauiense e formam um oásis. Os responsáveis pela abundância de nutrientes e vida na pequena propriedade é o casal Maria e José Argenaro Ribeiro Dias.

De acordo com Argenaro, o motivo de tanta abundância é devido a água. Há alguns anos ele cavou um poço e desde então tem plantado e sustentado a família com a produção da horta. Além do consumo próprio, Maria sai de bicicleta quase todas as manhãs para vender os alimentos de casa em casa nas comunidades vizinhas. “Nunca tivemos a ajuda do governo. Quando a água diminui, cavo mais fundo. Hoje a minha cisterna tem 11 metros de profundidade”, contou Argenaro, acrescentando que o irmão e o cunhado também encontraram água em suas propriedades e sobrevivem da agricultura.

Com o acesso à água, a família Ribeiro Dias se tornou independente. Segundo o membro da Ação Cearense de Combate à Corrupção e a Impunidade (Acecci), Francisco de Assis Soares, as mazelas da seca poderiam ser solucionadas com vontade política. “Existem alternativas simples de serem feitas, mas isso não interessa o poder público. No Nordeste não é interessante que o cidadão seja independente financeiramente, pois o político poderá perder um instrumento que ele utiliza para se eleger”, disse o participante da marcha. Sem água local, a população depende exclusivamente de caminhões pipa.

Para Francisco, um cidadão independente não venderá o voto. Já uma pessoa que necessita de ajuda governamental para sobreviver, pode ser mais facilmente influenciada com promessas políticas.

A alguns metros da propriedade de Argenaro há outras famílias que não têm acesso a água, a não ser através dos caminhões pipa que não tem periodicidade. No local havia um lago que hoje está totalmente seco e com o solo rachado.

Além da imagem triste da lagoa e da esperança das famílias no aguardo dos caminhões, outra situação chocou os voluntários da “Marcha Contra Corrupção e Pela Vida”. Os marchantes viram que em frente à lagoa há um poço perfurado. Porém, segundo os moradores, dele nunca saiu uma gota de água. 

Percebendo a situação de Caracol e de outras cidades visitadas durante a marcha, os marchantes organizam uma audiência pública a fim de expor os problemas do Nordeste e exigir ações do governo. “A constatação é de que o problema da seca não é seca climática em si, e sim a má gestão dos recursos públicos, a corrupção e a ineficiência administrativa. Foram encontradas obras abandonadas e má administradas que atestam que o problema da fome e da seca se dá por uma má gestão e ausência da boa governança”, descreveu o organizador da ONG Força Tarefa Popular, responsável pela marcha, Arimatéia Dantas, no ofício enviado às autoridades em convite para a reunião.

A audiência pública será na próxima terça-feira, 24 de julho, às 19h, em São Raimundo Nonato, último município do roteiro dos marchantes.

*Lírian Pádua é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalista e voluntária da ONG BATRA – Bauru Transparente, integrante da Rede AMARRIBO Brasil.

 

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Contra corrupção, jovem busca mudança de povoado no sertão

Por Lírian Pádua*

A esperança é o que move a população do pequeno povoado de Cajueiro, pertencente ao município de Guaribas, região sudoeste do Piauí. Os cerca de 2 mil habitantes tem acesso precário a água e nenhum tipo de comunicação. No local não há sinal de telefone, internet e tampouco serviço dos Correios. Contudo, mesmo com as dificuldades, a jovem Elizabete Maria da Trindade, 24, quer mudar a realidade da comunidade.

Apesar de estar situado a cerca de 30 quilômetros da Serra das Confusões, um dos principais pontos turísticos do Estado, o povoado é isolado. Mas a distância não foi um obstáculo para Elizabete. A cajueirense trabalha como merendeira de uma escola do povoado, é Pedagoga e Teóloga e cursa especialização em Ensino Superior.

O maior problema enfrentado pelo povoado é a questão da água. “Sei que isso está diretamente ligado à corrupção”, disse Elizabete. Segundo ela, a distribuição de água pelos caminhões pipas é influenciada por questões políticas. “Normalmente, só quem apoia a administração recebe água”, revelou.

Indignada, a cajueirese questionou o sistema de seleção municipal das famílias beneficiadas e exigiu o direito de sua família também receber a visita dos carros pipa. “Agora o caminhão da Defesa Civil vai em casa, mas outras pessoas continuam sendo excluídas do acesso a água”, contou.

O abastecimento acontece uma vez ao mês e cada família beneficiada, independente do número de integrantes, recebe 7 mil litros de água. Na cada de Elizabete moram 10 pessoas. “Os 7 mil litros é para beber, cozinhar, tomar banho, matar a sede dos animais e todo o resto”.

Devido a quantidade insuficiente, Elizabete todos os dias vai a um poço, feito pelos próprios moradores buscar mais água, que nem sempre é limpa. “Quando chove, a água desce de um riacho e então podemos perfurar um buraco que tem cerca de 8 metros de profundidade. Nele colocamos uma escada e descemos com o balde na cabeça para pegar a água”, disse Elizabete, lembrando que última vez que viu chuva em Cajueiro foi há 3 meses.

Entretanto, apesar da distribuição de água apenas para algumas famílias e da seca devido ao clima, Elizabete afirmou que nenhum morador sofre sozinho. “É uma comunidade muito unida. Um divide o que tem com o outro e essa solidariedade é o que nos fortalece”, orgulhou-se.

“Sou alimentada por um sonho”

O que para alguns seria motivo para abandonar uma batalha, para Elizabete, os problemas de Cajueiro somente reforçam a convicção de que é necessário lutar para construir um mundo melhor. A jovem tem um sonho: ser médica. Segundo ela, o desejo surgiu da revolta. 

De acordo com Elizabete, o povoado recebe uma vez por semana a visita de um médico que atende apenas 15 pacientes. “Se mais alguém estiver precisando de ajuda terá que esperar na próxima semana ou buscar atendimento em outra localidade”, disse.
“Quero ser médica para atender quem tiver necessidade, independente de quantidade. Se houver pessoas doentes, trabalharei dia e noite”, concluiu.

Marcha Contra a Corrupção e Pela Vida

A história de Elizabete e de todo o povoado de Cajueiro foi vista de perto pelos marchantes da 12ª “Marcha Contra a Corrupção e Pela Vida” nesta semana.  Após passarem por Guaribas, os voluntários seguiram caminhando os quase 30 quilômetros até o povoado para realizar uma aula de cidadania.

Depois de percorrerem cerca de 30 quilômetros a pé e debaixo de sol, os participantes da marcha foram surpreendidos por uma paisagem pouco comum. “Estávamos exaustos, recuperando os esforços e aguardando o restante dos marchantes e para entrar em Cajueiro. De repente, olhamos para um morro e vimos uma imagem que jamais imaginávamos no meio do sertão: um grupo de mulheres e crianças com diversos cartazes muito bem escritos. Naquela hora esquecemos o cansaço e todas as dores. Demos um abraço coletivo nos moradores do povoado”, contou o voluntário paulistano Igor Cândido de Oliveira.

De acordo com Igor, a recepção foi essencial para dar força aos marchantes. Segundo ele, os moradores reivindicavam políticas públicas. “O povoado é metade da população de Guaribas, mas eles são esquecidos. Só são lembrados em época de eleição”, disse.
Durante a noite os participantes da marcha organizaram uma aula de cidadania que contou com mais de cem pessoas. Depois do encontro, Elizabete e outros moradores demostraram interesse em formar uma associação para fiscalizar gastos públicos. “A intenção é melhorar a situação da nossa comunidade. Queremos água, uma educação melhor, infraestrutura, saúde e saneamento adequado. Pretendo lutar para a situação mudar. Quero continuar morando no povoado. Esse lugar é a minha vida”, afirmou a cajueirense.

O grupo receberá toda o apoio técnico e orientação necessária da Amarribo Brasil, do IFC e da Força Tarefa Popular, para a formação de uma ONG em Cajueiro que integrará a Rede Amarribo Brasil-IFC.

*Lírian Pádua é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalista e voluntária da ONG BATRA – Bauru Transparente, integrante da Rede AMARRIBO Brasil.

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Voluntários fiscalizam cidades no sertão do Brasil

Por Lírian Pádua*

Foi iniciada nesta semana a 12ª “Marcha Contra a Corrupção e Pela Vida”. O movimento é uma iniciativa da ONG Força Tarefa Popular que reúne voluntários de diversos Estados do Brasil para fiscalizar obras e gastos com dinheiro público. Além disso, o grupo ministra aulas de cidadania a população a fim de que a fiscalização seja feita continuamente. O movimento acontece anualmente e os voluntários percorrem o trajeto de uma cidade a outra a pé. Este anos os marchantes visitarão 6 municípios do interior do Piauí.

A primeira cidade a receber os trabalhos da marcha foi Guaribas. De acordo com o idealizador do movimento, Arimateia Dantas, o município foi escolhido por ter um dos índices de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixos do Estado. A cidade fica no sertão piauiense e tem aproximadamente 4.800 habitantes.

Durante a última quinta-feira, 11, os 25 marchantes e moradores da cidade fiscalizaram diversos pontos e obras do município que fica a 700 quilômetros da capital do Piauí, Teresina.

Fiscalização

Os primeiros locais visitados foram duas construções situadas em um morro no bairro Barragem. Segundo moradores, as obras foram iniciadas há 8 anos e no local deveriam funcionar uma pousada e ao "Memorial Fome Zero". Apesar do tempo, a obra da suposta pousada ainda não foi concluída e mesmo assim já apresenta rachaduras e sérios problemas estruturais que comprometem a segurança do local, de acordo com os voluntários.

Na visita ao memorial, criado no município para o lançamento do programa federal “Fome Zero”, em 2003, a indignação dos marchantes aumentou. O prédio que deveria ser um espaço cultural estava trancado e servindo de depósito da prefeitura. Lá foram encontrados computadores em meio a traças e morcegos, máquinas de costura novas e empoeiradas e, em uma das salas, diversos livros didáticos de 2013 ainda lacrados e jogados no chão. Junto deles havia certidões de nascimento, matrículas e boletins escolares.

“É revoltante, pois são livros atuais. Isso é um desperdício claro de dinheiro público. A população tem cobrado mais verbas para a educação, mas é necessário que seja feito controle social”, disse a marchante Nicole Verillo. “Me doeu ainda mais depois que ouvi uma mulher dizendo que era exatamente os livros que a filha precisava”, emocionou-se a voluntaria de São Paulo.

Segundo a moradora de Guaribas, Antonia Alves da Silva, a filha Domingas Silva, que cursa a 5ª série do Ensino Fundamental, precisava dividir os livros escolares com as amigas de classe. “O material é insuficiente para todos os alunos. Queria saber porque os livros foram escondidos lá. Essa corrupção afeta a minha vida, a da minha filha e a de todo o povo”, indignou-se Antonia.

Os marchantes também se depararam com outros problemas na educação de Guaribas. A cidade recebeu verba para a construção de uma Universidade Aberta do Brasil (UAB), porém nenhum morador conseguiu estudar na instituição, pois no local nada funciona. Em 2011 foi anunciado que no início do ano seguinte o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) iria à cidade para a inauguração da UAB. Contudo, a obra não foi finalizada e é utilizada como moradia e depósito de funcionários que trabalham em uma construção ao lado.

A obra que fica ao lado da Universidade Aberta do Brasil é de uma creche. De acordo com a placa do Governo Federal em frente ao terreno, a construção que foi iniciada em novembro de 2012 e tinha a previsão de término para maio deste ano. No local há apenas ferragens e sequer a estrutura foi levantada.

O grupo de voluntários da 12ª “Marcha Contra a Corrupção e Pela Vida” também fiscalizou ruas que receberam verbas para calçamento, mas que possuem apenas a sarjeta. Além disso, a equipe de marchantes recebeu a denúncia uma moradora que o pai foi sorteado no programa “Minha Casa, Minha Vida”, mas que ainda não recebeu a moradia e nem ao menos havia sido avisado que teria direito à casa. Outro fato que chamou a atenção foi a questão de 7 dos 30 beneficiados terem o mesmo sobrenome. Ademais, mesmo com as residências inacabadas e sem energia elétrica, algumas famílias já estão morando no local.

Durante a marcha os voluntários foram até a Câmara de Vereadores, porém o local estava fechado e nenhum dos 9 legisladores da cidade recebeu os marchantes. A prefeitura também foi visitada, e apesar de alguns esclarecimentos de funcionários municipais, o prefeito não estava presente.

Aulas de Cidadania

Toda a população de Guaribas foi convidada a participar durante a noite de uma aula de cidadania. Os munícipes receberam orientações de como fiscalizar as contas da prefeitura e verbas destinadas à obras na cidade. Além disso, Arimateia Dantas explicou aos moradores sobre os problemas encontrados na cidade e questionou se era vontade da população que o movimento fizesse as denúncias ao órgão competente. Diante da resposta positiva dos participantes da reunião, os voluntários irão elaborar um relatório das supostas irregularidades para apresentar ao Ministério Público.

Lírian Pádua é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalista e voluntária da ONG BATRA – Bauru Transparente, integrante da Rede AMARRIBO Brasil.

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