Mulheres palestinas na linha de frente contra a corrupção

Sábado, 8 de março, é o Dia Internacional da Mulher, e para marcar a ocasião estamos celebrando as mulheres que lutam contra a corrupção ao redor do mundo! Durante a semana, publicaremos entrevistas com grandes mulheres, do nosso movimento, que lutam contra a corrupção no mundo todo.

Viola Atallah é coordenadora de projetos da AMAN Coalition, capítulo da Palestina da Transparência Internacional. Trabalha com sistemas de integridade e pesquisas sobre o papel da mulher na luta anticorrupção.

Como você se envolveu com a luta anticorrupção?

Eu estava fazendo mestrado em Democracia e Direitos Humanos na Bizeit University e tive contato com os Pactos de Integridade que a AMAN desenvolveu. Pela primeira vez eu comecei a entender de que forma a corrupção afetava nossas vidas. Eu fiquei intrigada com o significado de integridade e o efeito que ela poderia ter na prática e decidi me voluntariar na AMAN em 2009. Você sabe que na Palestina nós temos enormes desafios políticos e a corrupção passa por todos eles.

Quando eu sai da universidade comecei a entender porque eu não podia permanecer em um emprego durante muito tempo. A vaga logo seria anunciada novamente e seria ocupada por alguém que conhecesse um oficial de alta patente ou que tivesse ligações familiares fortes. Eu não era a única afetada por isso, mas sim toda a juventude da palestina.

Quais as áreas em que você atua?

Eu trabalho em muitos municípios e com as câmaras municipais para melhorar a eficácia das políticas públicas e dos serviços que chegam aos cidadãos. Isso envolve o fortalecimento dos sistemas de transparência e participação, para que os cidadãos sejam ativos, assim como fortes códigos de condutas.

Ano passado, nosso Centro de Assistência Legal recebeu cerca de 390 casos de reclamações que envolviam relações entre o poder público e os cidadãos, que não recebiam algum  serviço. Levamos esses casos a Comissão Anticorrupção para acompanhar. Durante as oficinas de conscientização, percebemos que as mulheres se sentiam inseguras em seus locais de trabalho, principalmente aquelas que trabalham em departamentos do governo local. Elas não podiam fazer seu trabalho e viviam sempre com medo da dor humilhante do assédio sexual. Tinham medo de denunciar e falar, medo de perder o emprego.

Então decidimos pesquisar o assunto e percebemos como esse fenômeno estava relacionado com a corrupção. A AMAN fez um relatório para publicar esse caso e as vozes dessas mulheres foram ouvidas. Encontramos uma realidade surpreendente.

O que mais te orgulha em seu trabalho?

Bom, primeiro, quando eu comecei a trabalhar, os representantes do legislativo não nos escutavam. As portas eram sempre fechadas para nós e falar sobre corrupção era um tabu. Nós quebramos essa barreira. Hoje os vereadores reconhecem que eles representam os cidadãos, que eles tem importantes deveres a cumprir e que são responsáveis pelo seu eleitorado. Agora, há, por exemplo, um sistema de recrutamento mais transparentes no município Ramallah. 

O que as palestinas podem fazer para combater a corrupção de forma efetiva?

As mulheres palestinas tem lutado contra a invasão, a pobreza, a falta de dignidade. A legislação deve ser colocada em prática para que as mulheres ocupem cargos políticos e para que o silêncio seja quebrado.

Por fim, qual mulher mais te inspira?

Todas as mulheres palestinas são minha inspiração. Elas são pacientes e possuem uma coragem incrível para suportar a dor. Tantas palestinas perderam membros de sua família ou viram eles serem presos. Temos enfrentado anos de invasão. Penso no que minha mãe e minha avó passaram e é de partir o coração.

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Este texto faz parte de uma série de entrevistas promovidas pela Trasnparência Internacional em um especial para o Dia Internacional da Mulher, cujo objetivo é demonstrar a luta de mulheres contra a corrupção em todo o mundo.

Por: Farid Farid, Assessor de Imprensa – Middle East & North Africa Transparency International.

Tradução: AMARRIBO Brasil

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