Pre-para

Por Olivia Nachle*

2014 começou. O ano vai ser agitado, já tá preparado, né? Talvez você tenha visto esse calendário brasileiro do ano rolando pela internet. Carnaval em março, deixando o clima de verão mais prolongado, abril já conhecido pelos seus incríveis feriados, outros 3 meses dedicados exclusivamente à Copa do Mundo (e há promessa de grandes manifestações nesse período), 2 meses úteis pra trabalhar direitinho, as eleições grandes em outubro, mais um mês de trabalho e dezembro, trazendo as queridas férias. Vai passar feito um sopro. Quando você mal perceber já vai estar gritando gol e pintando a cara de verde e amarelo (ou indo pra rua mostrar tua indignação com toda essa palhaçada) e já vai ter que começar a pensar bem em quem vai eleger. Na real, a hora de começar a pensar nisso é agora, no começo do ano.

É bom ficar antenado. Você sabe a importância de votar certo, né? É você, querido cidadão, que elege aquele bando de gente que fica em Brasília decidindo as leis e políticas públicas que vão, sim senhor, afetar diretamente a sua vida. Então, a hora é agora. E, honestamente? Não adianta mesmo só ficar vendo televisão pra decidir. Vai atrás. Olha os planos de governo que os candidatos a Governador e Presidente são obrigados a apresentar, veja bem o que eles propõem, as metas que eles querem alcançar, a forma como eles pretendem chegar nelas. Esse documento, além de obrigatório, tem que se alinhar com o Plano Plurianual, que os eleitos formulam no primeiro ano de governo e que é o principal desenho das diretrizes, objetivos e metas que vão ser realizados. Qualquer ação que venha a ser feita, tem que estar lá.

Pros cargos de legislativo – deputado estadual, federal e senador- dá uma pesquisada no histórico de cada um, no que eles defendem. Não esquece que todos os projetos de lei passam por eles e que cada voto ali no Congresso é importante. Veja bem o partido em que eles estão – não, partido não é tudo igual e as prioridades de cada um estão bem definidas. O voto deles, salvo raras exceções, vai diretamente de acordo com o que o partido determina. Geralmente, são esses os cargos que abrem espaço pra personificação da política. Já ouviu falar nesse termo? É aquela velha história que rola quando a sociedade elege mulheres melão ou Tiriricas da vida. O voto não foi político. Foi pela imagem conhecida daquela pessoa. E isso é grave, bem grave.

No cenário nacional, você vai ter que votar pra Presidente. Se tudo se manter como terminou no ano passado, os principais candidatos vão ser a Dilma, do PT, brigando pela sua reeleição; o Aécio Neves, vindo com tudo na oposição pelo PSDB e a dupla dinâmica Eduardo Campos e Marina Silva (que aos 47 do segundo tempo se uniu ao candidato do PSB por não ter conseguindo criar o seu partido, o Rede Sustentabilidade). A atual presidenta terminou 2013 com 43% da população considerando seu governo ótimo ou bom, 35% regular e 20% ruim ou péssimo. As pesquisas do IBOPE realizadas apontavam sua reeleição ainda no primeiro turno, com 47% das intenções de voto contra 19% no Aécio e 16% no Eduardo Campos. Mas quando a campanha política começar, tudo deve mudar. Mas o recado já tá dado: o Brasil vai estar efervescendo ao longo desse 2014 recém-começado. Muita coisa vai rolar, muita bomba vai explodir. Não vai só pelo que sair no jornal. Fica atrás e veja como seus candidatos se portam ao longo do ano. Pode parecer balela, mas não é: seu voto é fundamental.

*Olivia Nachle é formada em Jornalismo e em Gestão de Políticas Públicas. Mais do que isso, tem o coração livre e é uma curiosa. Fascinada pela natureza e pelo ser humano, está sempre futricando lugares especiais e pessoas que levam a vida além do convencional e, de forma ou outra, deixam pegadas bonitas no mundo. E-mail: olivia@noo.com.br

Artigo publicado originalmente em Noo: http://noo.com.br/pre-para/

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A rendição do Congresso ao chiqueiro da política

“chiqueiro (sentido figurado) – casa ou lugar imundo”

Sintomático que o presidente do Senado, José Sarney, tenha proibido a manifestação contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), convocada por várias entidades e apoiada peloCongresso em Foco.

Os manifestantes pretendiam fazer ontem a lavagem simbólica da rampa do Senado para expressar a indignação que levou, até o momento em que é publicado este texto, mais de 250 mil brasileiros a subscrever o abaixo-assinado contra a volta de Renan à presidência do Senado.

O problema é que limpeza é algo que não combina muito com o Congresso. Nas últimas duas décadas, ele proporcionou seguidas demonstrações de afronta aos cidadãos que custeiam suas bilionárias despesas (perto de R$ 8 bilhões no ano passado): escândalo do orçamento em 1993, compra de votos para aprovar a emenda da reeleição em 1997, violação do painel em 2001, mensalão em 2005, sanguessugas em 2006, farra das passagens e atos secretos em 2009… a lista é infindável.

Mas sempre pode ser enriquecida, aumentando o tamanho dos golpes contra a cidadania, prova agora o processo em curso de eleição das Mesas do Senado e da Câmara. Estamos diante de uma daquelas tristes situações que nos levam a constatar que, em se tratando do Congresso brasileiro, sempre é possível piorar.

Exemplar é o caso de Renan. Na iminência de receber a maioria folgada de votos dos seus pares, foi até agora incapaz de esclarecer as denúncias que, pouco mais de cinco anos atrás, o obrigaram a renunciar à presidência do Senado para preservar o mandato de senador.

Reconduzir Renan ao posto, antes de eliminar todas as dúvidas quanto à sua conduta, põe sob suspeita todo o Legislativo. Um poder que já apresenta um gigantesco passivo no que se refere ao “controle interno” dos seus integrantes e das suas ações. E daí? O Congresso, que tem um terço de seus parlamentares às voltas com acusações criminais, continua a dar sinais de preferir a imundície dos chiqueiros ao asseio das normas impostas por aquilo que, algo pomposamente, poderíamos chamar de moralidade pública.

Com menos pompa, poderíamos dizer que se espera atenção a pelo menos duas normas básicas: não roubar o dinheiro dos contribuintes e investigar ou colaborar com a investigação de crimes contra a administração pública, sobretudo quando os acusados forem deputados e senadores.

Oposta é a regra que prevalece no Congresso. Ali, cidadãos sob suspeita gozam de proteção oficial, tapinhas solidários nas costas, carro e despesas pagas pelo erário, e abusam da paciência de um povo que demonstra excessiva complacência em relação a políticos bandidos.

Desfilam pelos corredores do Legislativo desde políticos condenados a prisão até a espantosa figura de Paulo Maluf, alvo de um mandado da Interpol que lhe impede de pisar em qualquer outro país do mundo, sem ir imediatamente para a cadeia, mas que pode, legalmente, ser deputado no Brasil.

A precária mobilização popular, muito aquém do tamanho dos desaforos que o Parlamento tem metido pela goela abaixo da sociedade, contribui para o escárnio não ter fim.

Apoiado por todos os grandes partidos, inclusive da oposição, é dado como favorito na disputa da presidência da Câmara outro político sob fortes suspeitas, o atual líder peemedebista, Henrique Eduardo Alves (RN).

Questionados sobre possíveis desvios de conduta, ele e Renan reagem de modo semelhante. Ignoram a denúncia, ao mesmo tempo em que instruem adversários a atribuir os graves questionamentos que lhes são feitos a meros preconceitos contra nordestinos. Esta, aliás, é uma das imbecilidades preferidas da meia dúzia de militantes pró-Renan que nos últimos dias tenta infestar este Congresso em Foco com centenas de comentários, invariavelmente usando nomes falsos e termos ofensivos.

Como não há limites para o abismo moral, o PMDB, outrora valente combatente da ditadura e hoje confortável abrigo para novos e velhos suspeitos, prepara-se para eleger como líder outro parlamentar sob investigação, Eduardo Cunha (RJ). Também deve explicações à Justiça seu rival na disputa, Sandro Mabel (GO).

Em comum a Renan, Henrique, Eduardo Cunha e Mabel, a facilidade com que se aliam aos governos de plantão, sempre multiplicando os instrumentos a serviço de um tipo de política que, definitivamente, não cheira bem.

O Congresso em Foco sente-se no dever de manifestar perplexidade diante de tudo isso e se colocar à disposição dos brasileiros que pretendem ver um Congresso radicalmente diferente. Afinal, fazemos jornalismo na esperança de contribuir para as coisas mudarem para melhor – não para pior.

Editorial do site Congresso em Foco, de 31/01/2013

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