Parlamentares testam a população

Os parlamentares brasileiros colhidos de surpresa pelas manifestações de rua, votaram projetos e emendas que estavam há tempos na pauta e não recebiam atenção. Rejeitaram a escandalosa PEC da impunidade que retiraria poderes de investigação do Ministério Público,  e no senado votaram corrupção como crime hediondo.

Passada a estupefação, eles se reorganizam e testam a população para ver se as manifestações são para valer ou se foi apenas uma febre passageira. Os órgãos de comunicação simpáticos ao governo dão ênfase à espionagem norte-americana para desviar atenção das manifestações.

A questão de espionagem é uma piada e deveria ser tratada de forma privada e jamais poderiam tomar a dimensão que estão dando no Brasil. Esse assunto só serve para desviar atenção. Todos sabem que esse monitoramento existe, como alguns membros do governo admitem.

O teste que o Senado fez com o povo brasileiro foi rejeitar a emenda que eliminaria parentes  como suplentes na eleição do Senado. Depois voltaram atrás e vetaram parentes, mas mantiveram os suplentes. Muitos dos suplentes são financiadores de campanha que fazem acordo para o titular se afastar em um dado momento para que ele assuma a cadeira. O Suplente é um representante do povo que não recebe votos.

Está muito evidente que um grupo de pessoas tomou o setor público no Brasil e o transformou em instrumento de benefício próprio. Isso só muda com o povo retomando o poder.  Uma espécie de tomada da Bastilha.

O barômetro da corrupção publicado pela Transparência Internacional mostra o grau de descrédito que afeta os políticos brasileiros: 81% da população acredita que os partidos políticos são corruptos; 72% acredita que os parlamentares são corruptos, e depois vem a polícia que 70% considera corrupta.

Os parlamentares brasileiros queriam transferir para a polícia a exclusividade das investigações criminais, quando 70% da população acredita que a polícia é corrupta, apesar de honoráveis exceções que conhecemos.

Temos que ficar espertos na votação da corrupção como crime hediondo, pois o Senado aprovou a Lei, mas a Câmara criou uma comissão para estudar o assunto, mas ainda não vimos entrar na pauta.

Os nossos políticos não mais representam o povo brasileiro, por isso o país precisa passar por uma reforma política profunda que restabeleça a credibilidade das instituições.  Renan Calheiros e Henrique Alves usaram irregularmente ativos da república em benefício próprio em pleno clamor popular. Eles não têm a menor vergonha.  Imagine com que cuidado eles estão cuidando dos interesses do país. Com a mesma desenvoltura que usam recursos do povo em benefício próprio.  A atividade política no Brasil precisa mudar muito para que fique minimamente decente.

Josmar Verillo, Presidente do Grupo Kyly, membro do Conselho da Amarribo Brasil, doutor em economia.