Em entrevista, Anna Bossman, Diretora do Departamento de Integridade e Anticorrupção, Banco Africano de Desenvolvimento, fala sobre a confiança no sistema financeiro.
As pessoas costumam falar dos riscos das empresas estrangeiras quando fazem negócios na África. Quais são os riscos para os países africanos quando eles fazem negócios com empresas estrangeiras?
Eu acho que o principal é a morte do empreendedorismo. Na África costumamos dizer que o pequeno empresário é realmente quem domina a economia e, quando as grandes empresas estrangeiras chegam, eles sucumbem com elas. Elas acabam com o pequeno empresário, porque têm mais dinheiro. Vou dar um exemplo: minha mãe tinha uma pequena empresa de aluguel de artigos para eventos. Ela estava dando conta do recado. Não precisava de muito capital inicial, mas chegou a ter 15 pessoas trabalhando para ela, e eles só alugavam toldos, mesas e cadeiras. E chegaram as empresas estrangeiras. Claro que tinham mais dinheiro e acabaram com eles. É realmente uma pena, porque o pequeno empresário na África é o único que ajuda aos outros.
O que você acha que precisa ser feito para restaurar a confiança no mundo do dinheiro?
A primeira coisa a ser feita é tentar e conseguir receber o dinheiro de volta. Toda evasão ilegal, todo o dinheiro que saiu – tentar reavê-lo. Também é importante ter boas leis. Mas, além das leis, já que temos leis muito boas, também precisamos fazer as leis valerem, e é o que falta. Porque as leis não valem. Por causa de interesses velados. As mesmas pessoas que fazem as leis, são as mesmas que farão com que a lei não os atinja. Por isso que quando a lei consegue pegá-los, não há sanções contra eles. Este é o principal problema. Eu acho que vocês ouviram sobre isso nas sessões – é preciso dar um basta à impunidade. Este é um problema muito, muito grande. As leis são boas. É preciso ter leis, mas é necessário que elas sejam cumpridas.
Como podemos fazer com que a riqueza dos recursos naturais beneficie as pessoas que moram nesses países?
Mais uma vez, trata-se de liderança. Mas não é só liderança. As grandes empresas também precisam seguir as regras. Eu trabalhei com uma empresa multinacional. Faz muito tempo, mas à época eu não percebi como essas empresas petrolíferas e de mineração estavam tirando sem dar em troca. Mesmo quando davam em troca, a compensação nunca era justa. Outro dia eu estava explicando a uma pessoa que quando você diz que está compensando pela terra que você tomou, é necessário lembrar que as plantações na terra que eles cultivam já vêm de gerações. Quando você dá dinheiro a eles, você não os recuperou ou compensou – este é um grande problema. É isso que mantém os pobres sempre pobres.
O texto acima é um recorte de uma entrevista disponível em www.vimeo.com/15iacc