Especial 10 anos Rede AMARRIBO Brasil-IFC
Gonzaguinha colocaria fé em Liana Morisco, mulher-moça “que não foge da fera e enfrenta o leão”. Formada em administração pública pela UNESP – Universidade Estadual Paulista, Liana é servidora pública concursada da Prefeitura Municipal de Sorocaba. Com 32 anos, e sempre com um sorriso confiante no rosto, ela está sempre pronta para vencer os desafios que a corrupção impõe em sua vida.
Liana se envolveu na luta anticorrupção em 2009, quando participou da fundação da AMASA – Amigos Associados de Analândia – cidade com pouco mais de 4 mil habitantes, onde ela morou durante sua infância e juventude e que carrega no coração até hoje. “Analândia é a grande responsável por eu ser quem eu sou. Minha mãe diz que desde bebê a cidade me acalmava. Só não amo Analândia mais do que a minha avó (risos). Eu daria a minha vida por essa cidade”, conta.
Esse amor da ativista pela cidade fez com que ela vivenciasse momentos fortes. Desde sua fundação, a AMASA já sofria hostilidades por parte da Prefeitura de Analândia, que se recusava a receber seus membros para qualquer diálogo.
Na mesma época Liana, através da AMASA, conheceu a AMARRIBO e a Rede AMARRIBO Brasil-IFC. A AMARRIBO acompanhou de perto o caso de Analândia, um dos mais difíceis dentro da Rede. A cidade ficou nacionalmente conhecida por seu “clima de faroeste” depois de ser palco de uma série de crimes que incluem agressões, ameaças e um assassinato.
Em 2010, Evaldo José Nalin, um dos vereadores de Analândia que tinha se aproximado da AMASA, foi assassinado com sete tiros dentro de sua própria casa. O crime teve motivação política, como foi declarado pela Polícia Civil. Luiz Carlos Perin, então chefe do setor de Educação da Prefeitura de Analândia, foi acusado de ser o mandante do crime e hoje está foragido. Independentemente da atuação da justiça, porém, a mensagem foi clara.
Porém, as ameaças e a impunidade não calaram Liana e o povo de Analândia. “O assassinato do Nalin foi um dos acontecimentos mais marcantes na história de Analândia, foi um marco para todos nós. Ao invés de inibir a população, o fato serviu para o povo dar um basta”, relembra.
Para demonstrar apoio ao trabalho da AMASA, a Rede AMARRIBO Brasil-IFC se mobilizou e foi até a cidade, no interior do estado de São Paulo, realizar um grande ato, com o objetivo de demonstrar apoio à AMASA e à população de Analândia, e declarar repúdio ao assassinato do vereador Nalin. Foram mais de 100 pessoas presentes, incluindo ativistas da Rede de Teresina (PI), Antonina do Norte (CE) e Brasília (DF).
“A Rede mantém acesa a vontade de permanecer na luta. Foi a AMARRIBO que possibilitou que Analândia acordasse. Sem o apoio da AMARRIBO e da Rede não teríamos conseguido”, diz Liana.
Hoje, apesar dos desafios ainda serem muitos, a realidade em Analândia mudou bastante. A população está mais consciente, a participação nas sessões da Câmara aumentou, e o mais importante, de acordo com Liana, foi a população entender a força que ela tem. “Hoje, quando eu vejo as pessoas falando sobre política na rua, sem medo, cobrando, sei que é resultado de um longo trabalho da AMASA, demonstrando que através do controle social é possível transformar uma cidade”, conta.
A ativista também participa do Observatório Social de Sorocaba, cidade onde mora e trabalha. A servidora pública já sofreu represálias no seu trabalho por compartilhar em seu perfil no Facebook uma notícia sobre uma denúncia de corrupção na Secretaria de Saúde de Sorocaba, uma afronta à liberdade de expressão de qualquer cidadão. “A corrupção está em todos que temem a transparência e ser ativista nessa causa incomoda muito os que temem ser transparentes”, diz Liana.
Para a ativista transparência e informação são fundamentais, e apesar de toda a pressão e das ameaças, Liana não desiste. É muito fácil encontrá-la em audiências públicas, reuniões, manifestações e outras ações e eventos relacionados ao controle social e combate à corrupção. “Sou viciada em participar, em ajudar a construir uma cidade melhor, e combater a corrupção em todos os cantos por onde vou”, conta.
Além de continuar cuidando de Analândia, através da AMASA, Liana pretende trazer cada vez mais pessoas para essa luta e acredita que todos tem essa responsabilidade. “A luta é dura, mas não é impossível. A participação da sociedade é o que vai construir uma cidade e um país melhor. É uma luta viciante, quem está dentro sabe. Uma vez dentro não tem como sair”, conclui Liana sorrindo.
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Este texto faz parte de uma série especial promovida pela AMARRIBO Brasil em comemoração aos 10 anos da Rede AMARRIBO Brasil-IFC. Reprodução autorizada desde que citada a fonte com o link original.