Sábado, 8 de março, é o Dia Internacional da Mulher, e estamos celebrando as mulheres que lutam contra a corrupção ao redor do mundo! Durante a semana publicaremos entrevistas com grandes mulheres, do nosso movimento, que lutam contra a corrupção no mundo todo.
Nyaradzo Mutonhori é coordenadora do Centro de Assistência Legal Contra a Corrupção da Transparência Internacional (TI) no Zimbábue. Ela foi informada que um político poderoso de Harare estava realizando extorquindo as mulheres, que solicitavam habitação subsidiada pelo Estado, em troca de favores sexuais. As mulheres procuraram a polícia diversas vezes mas, como o político exercia grande influência local, as queixas e denúncias foram retiradas. As mulheres então procuraram o Centro de Assistência Legal, e ai Nyaradzo entrou em cena, ajudando as mulheres a elaborarem as denúncias e declarações e acompanhando-as até a delegacia para abrirem um processo contra o tal político. Após o acompanhamento não só o assédio foi interrompido, como as mulheres conseguiram aplicar os subsídios para habitação e receber o apoio ao qual tinham direito. A partir dai, Nyaradzo sabia que ela podia desempenhar um importante papel ajudando as mulheres de seu país a combaterem a corrupção.
Como o fato de você ser mulher impacta no seu trabalho?
Ser mulher faz com que seja mais fácil eu mobilizar outras mulheres. Eu posso facilmente relatar a elas como a corrupção afeta a vida delas, a nossa vida, a vida das mulheres. Também é mais fácil ter acesso a espaços com líderes politicamente sensíveis. No Zimbábue, líderes políticos tradicionais muitas vezes são hostis às organizações da sociedade civil. Porém, quando eles são abordados por uma mulher, eles tendem a atenuar o tom e são mais receptivos porque as mulheres são consideradas menos perigosas e menos propensas a se envolverem com política. Nessa linha, entre benefícios, há também o lado que é impactado de forma negativamente. Parte da sociedade pensa que as mulheres não possuem força para enfrentar grandes poderes e desafiar a corrupção sistêmica. Preferem um advogado “macho” para enfrentar os "grandes" casos.
A corrupção afeta homens e mulheres de forma diferente no Zimbábue?
As mulheres são diretamente afetadas pela corrupção por causa de seu papel cultural e das questões de gênero. A corrupção contribui para manter a precária situação de saneamento básico que temos. As mulheres sempre se deparam com quedas de energia e falta de água limpa. São elas que cuidam dos doentes e precisam buscar fontes de água que nem sempre são limpas e transmitem mais doenças como cólera e febre tifoide. Além disso, a extorsão sexual afeta diretamente as mulheres, principalmente as mais jovens que estudam e fazem faculdade. Professores e coordenadores exigem favores sexuais em troca de nota e aprovação em disciplinas, isso é comum.
O que é preciso para as mulheres se engajarem na luta contra a corrupção?
Recursos devem ser investidos na formação da capacidade da mulher para o controle social para exigir transparência e prestação de contas dos serviços públicos que recebem. É preciso que as mulheres saibam dos seus poderes e direitos, como o direito de acesso à informação, assim formaremos lideranças responsáveis, tanto em nível local como nacional. As mulheres devem ainda serem encorajadas a participarem de grupos de advocacia e investigação contra a corrupção e darem sua contribuição. Às vezes tenho a sensação de que as mulheres não sabem o impacto que sua participação pode ter.
Tem alguma mulher que te inspira?
Minha Diretora Executiva, Mary-Jane Ncube, me inspira, especialmente quando ela desafia setores que são contra o nosso trabalho. Sua coragem e tenacidade são inspiradores. Além dela, em um nível internacional, Huguette Labelle, Presidente da Transparência Internacional, me inspira. Seu entusiasmo e sua paixão por combater a corrupção. Ela me encoraja a desenvolver uma reputação de excelência como ativista.
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Este texto faz parte de uma série de entrevistas promovidas pela Trasnparência Internacional em um especial para o Dia Internacional da Mulher, cujo objetivo é demonstrar a luta de mulheres contra a corrupção em todo o mundo.
Por: Saran Koly – Africa Communications Coordinator at Transparency International.
Tradução: AMARRIBO Brasil