PGR quer impedir emissão de certidão eleitoral de políticos com contas rejeitadas

Em Adin (ação direta de inconstitucionalidade) encaminhada ao STF (Supremo Tribunal Federal), a PGR (Procuradoria-Geral da República) quer impedir que a Justiça Eleitoral emita a certidão eleitoral para políticos que tenham suas contas de campanha rejeitadas. A certidão é uma das exigências para o registro de candidaturas a cargos eletivos.

Autora da Adin, a procuradora-geral da República em exercício, Sandra Cureau, requer que o STF estabeleça que o conceito de “apresentação de contas” seja entendido não apenas pelo ato de entregar o documento à Justiça Eleitoral, mas que ele represente também que o documento seja regular. Ou seja, para obter o registro, o político não poderá ter prestações de contas anteriores rejeitadas nem poderá ter a atual prestação considerada irregular.

Para Sandra Cureau, o atual entendimento do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para a concessão da certidão eleitoral fere a Constituição e o princípio da moralidade para o exercício do mandato. No entendimento da procuradora-geral em exercício, a prestação de contas é o “único meio colocado à disposição da Justiça Eleitoral para promover o controle da arrecadação e dos gastos de campanha eleitoral e, assim, garantir o respeito a diversas normas, cujo objetivo é tornar efetivos os preceitos constitucionais, como o equilíbrio na disputa eleitoral e a proteção das eleições contra o abuso de poder econômico”.

Na ação, a procuradora-geral em exercício lembra que ao longo dos anos o conceito de prestação de conta tem sido modificado e isso tem permitido que políticos com contas rejeitadas não sejam punidos. Sandra Cureau cita, inclusive, números da própria Justiça Eleitoral que revelam que, em março do ano passado, 21 mil candidatos tiveram suas contas desaprovadas. “Tal número, certamente, é resultado da ausência de consequências jurídicas decorrentes da prática de regularidades na movimentação de recursos de campanha”, disse.

Ela pede que seja concedida liminar para que os efeitos da medida tenham validade para a análise da prestação de contas dos candidatos que disputaram as eleições do ano passado. “A definição do conceito de quitação eleitoral, no que se refere à prestação de contas de campanha, é fundamental para o processo eleitoral. Ademais, deve ser ressaltado que a Justiça Eleitoral, no momento, analisa as prestações de contas dos candidatos que concorreram nas eleições de 2012, sendo de todo recomendável que tal análise ocorra já a partir das balizas de interpretação fixadas pelo Tribunal”, diz trecho da Adin.

Fonte: Última Instância/PNBE

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Renan Calheiros destinou cota parlamentar para empresa de marido de assessora

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e seu filho, o deputado federal Renan Filho (PMDB-AL), usaram R$ 110,5 mil da cota parlamentar do Senado e da Câmara para uma empresa que pertence ao marido de uma assessora de gabinete do senador. 

A informação foi revelada neste sábado (19) pela revista "Época". Calheiros usou R$ 16 mil, em 2011, da cota de seu gabinete para a empresa Ibrape Pesquisa Ltda., sediada em Alagoas. Na época, a empresa pertencia à assessora Edênia Damasceno Sales, com 5% das cotas, e seu marido, Francivaldo Diniz, com 95% das cotas. Em março de 2012, Edênia deixou a empresa, hoje administrada pelo seu marido. Edênia está lotada no gabinete de Renan no Senado desde 2005, atuando no gabinete do senador em Maceió (AL). 

Em 2012, o deputado federal Renan Filho usou R$ 94,5 mil da verba de seu gabinete também para contratar o Ibrape. Os pagamentos ocorreram de janeiro a outubro. Calheiros é o candidato favorito para assumir a presidência do Senado no início de fevereiro. Na Câmara, outro peemedebisa, o deputado Henrique Eduardo Alves (RN), também concorre com apoio dos principais partidos da Casa. No caso de Eduardo Alves, a Folha já havia revelado que um assessor recebeu pelo menos R$ 1,2 milhão de um órgão do governo federal controlado politicamente pelo deputado. 

Procurado ontem pela Folha em seu telefone celular para comentar o assunto, o senador não foi localizado. O aparelho permaneceu desligado. A assessoria de Renan Filho também não atendeu chamadas no aparelho celular. Na sede da Ibrape, em Maceió, localizada por telefone, uma funcionária disse que passaria o recado para Edênia e Diniz. Na residência do casal, também foi deixado recado, mas não houve retorno até o fechamento desta edição. 

Segundo "Época", Diniz afirmou que seu trabalho consiste em realizar pesquisas "sobre os problemas e as demandas de cada município". Edênia disse à revista que o fato de ser casado com Diniz não deveria "privar" o senador de ter acesso a "um serviço bom". 

Na semana passada, a Folha revelou que o senador usou R$ 10 mil da sua cota de gabinete para uma empresa de áudio e vídeo cujo responsável disse, contudo, que não trabalhou para o mandato do senador, mas sim para sua campanha eleitoral. Renan negou ter usado o recurso para quitar dívida eleitoral. 

As cotas parlamentares são recursos públicos. Os políticos podem usar a cota sem licitação pública e servidores públicos podem ser donos de empresas, desde que não exerçam cargos de direção. Os parlamentares apresentam as notas fiscais e são ressarcidos pela Casa.

Fonte: BOL
 

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O Combate à Corrupção e o MP

A importância do Ministério Público no combate aos atos de corrupção ou de improbidade administrativa, a partir da realização dos direitos fundamentais estabelecidos pela Constituição de 1988, transparece clara e evidente. Considera-se, para tanto, a intervenção do MP em setores áridos e tradicionalmente alheios às suas funções originais, anteriores ao texto constitucional, que tem a garantia da prática do princípio da moralidade administrativa uma desafiadora tarefa.

Com o desenvolvimento da cultura da corrupção no País, com interferência direta na estruturação do poder econômico e de informação, e com a exclusão social de grande parte da população, resta demonstrada a urgência e a relevância da garantia do MP como instrumento de combate à corrupção – conduzindo investigações criminais contra corruptos, corruptores e criminosos com alta periculosidade pelas influências social, política e econômica que exercem.

Mais do que a constatação do comando constitucional no sentido da atuação social e investigativa do MP, verificam-se, hoje, a urgência e a necessidade de sua participação, haja vista o caos e a atual crise de nossas instituições. A relevância dessa interferência, verdadeira garantia para efetividade ao combate à corrupção e ao crime organizado, vem causando forte resistência à atuação independente do MP.

Os ataques e as resistências à atuação do MP, como ocorre agora com a tentativa de aprovação da “PEC da Impunidade”, a PEC 37, são decorrentes do saldo positivo de sua interferência eficiente no combate à corrupção institucionalizada. Os ataques no sentido do excesso ou abuso de poder e da exibição pessoal por parte de membros da instituição – casos excepcionais – fazem parte da estratégia para inibir e enfraquecer o MP.

Com bem pondera a cientista política Maria Tereza Sadek: “Os prefeitos hoje em dia temem de tal forma o MP que a probidade administrativa aumentou. Por quê? Eles sabem que, se cometerem desvios, poderão ser denunciados. Há um integrante do MP em cada município.”

Por Affonso Ghizzo Neto, promotor de justiça e idealizador do projeto "O que você tem a ver com a corrupção?".

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Batra recebe nova associação de Piratininga

A organização não governamental (ONG) Bauru Transparente (Batra) recebeu na noite da última segunda-feira, 14, a visita de voluntários da Associação Transparência e Justiça de Piratininga. O grupo recém-formado na cidade vizinha pretende, em breve, apresentar documentações para se oficializar como ONG.

O encontro ocorreu através do contato da associação com a Batra, pois os piratininganos queriam conhecer mais a fundo o trabalho da Bauru Transparente e as experiências pelas quais a ONG já passou. Segundo o presidente da associação, José Luiz Theodoro Negreiros, o grupo foi formado antes das eleições do ano passado com o intuito de debater sobre a política municipal. “Insatisfeitos com a antiga administração, nos manifestamos e conseguimos reverter o quadro político. Contudo, depois que o ex-prefeito (Odail Falqueiro) perdeu a eleição, a cidade virou um caos. Então decidimos intervir a começamos a fazer nosso trabalho de fiscalização e acompanhamento das sessões na Câmara”, contou.

As primeiras visitas à Câmara não foram fáceis, segundo José Luiz. “No começo os vereadores tiravam sarro, mas agora respeitam o nosso trabalho. Além disso, os moradores de Piratininga já nos procuram para fazer denúncias”, informou o presidente da associação, afirmando que o grupo pretende fazer investigações e levá-las para a Promotoria.

De acordo com a coordenadora geral de projetos da Batra, Leila Canettieri, a visita à sede da ONG em Bauru serviu para a diretoria dar algumas orientações aos voluntários de associação de Piratininga. “Explicamos sobre como pedir documentos e da importância da educação para a cidadania. Além disso, falamos sobre as parcerias, pois não devemos apenas cobrar, mas também ajudar o setor público”, ressaltou Leila.

José Luiz informou que a documentação para regularizar o grupo já está quase pronta. “Vamos trabalhar conforme a lei e pretendemos manter o contato direto com a Batra. O nosso interesse é que Piratininga seja uma cidade melhor”. A diretoria da Associação Transparência e Justiça de Piratininga tem nove membros e os conselhos estão sendo formados. “Eles retornarão à Batra para ver como o trabalho é realizado em Bauru, principalmente, para conhecer como funciona projeto sobre o acompanhamento do legislativo”, disse Leila.

Para a Batra, o surgimento do grupo em Piratininga mostra que a cada dia aumentam os números de organizações interessadas no controle social. “Falamos que somos netos da Amarribo Brasil (Amigos e Associados de Ribeirão Bonito) e filhos da Matra (Marília Transparente), mas com o surgimento da associação, a família cresce e Amarribo ganha um bisneto”, brincou a coordenadora geral de projetos da Batra.

Por Lirian Pádua – BATRA

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Taques utiliza internet para obter assinaturas contra PEC

O senador Pedro Taques (PDT) tem utilizado a internet em busca de assinaturas para barrar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37/2011, conhecida como “PEC da Impunidade”, que pretende retirar poderes investigatórios do Ministério Público (MP) e estabelecer a investigação criminal como prerrogativa exclusiva da Polícia Judiciária – Polícia Federal e a Polícia Civil dos estados e do Distrito Federal.

A coleta de assinaturas está sendo realizada através do site Avaaz e até o momento já foram recolhidas 12.127. A meta é atingir o total de 15 mil assinaturas, que serão utilizadas como “arma de convencimento” junto aos senadores. A proposta já foi aprovada pela Câmara dos Deputados e, se for aprovada pelo Senado, terá vigência imediata.

Para Taques, a PEC representa um “retrocesso”. "Até cachorro no Brasil pode investigar e o Ministério Público não pode, de acordo com esta PEC 37. A proposta é um retrocesso, um retrocesso no combate à impunidade, um retrocesso no combate à corrupção”, declarou o senador no lançamento da campanha nacional "Brasil contra a impunidade: não à PEC 37/2011”, realizado em dezembro do ano passado.

Fonte: Diário de Cuiabá

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‘Falta vontade de Constituição’, diz professor

Marcelo Nerling, é Prof. Dr. do curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo – USP, Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, Mestre em Instituições Jurídico Políticas e Doutor em Direito do Estado.

Nerling trabalha pelo notório saber na formulação, implementação e avaliação de programas, projetos e ações, do planejamento participativo, no setor público e público não estatal.  Estuda e aplica temas multidisciplinares, com ênfase para os direitos especiais e o campo do direito público estatal e não estatal. Desenvolve o empreendedorismo e trabalha de forma interdisciplinar com Resolução de Problemas na Gestão de Políticas Públicas e há 2 anos participa de palestras e ações junto a AMARRIBO Brasil.

Além do seu trabalho como professor, você atua em movimentos de controle social e combate à corrupção. Comente sobre essa atuação.

Eu recordo sempre de uma frase do Prof. Fábio Comparato: 'Quem sabe faz, quem não sabe ensina!' Levei comigo a ideia de que é tão importante fazer como ensinar. Afinal, minha grande vocação é o magistério.

Além disso, como já sabemos, as teorias precisam servir, ter utilidade, ser uma ferramenta e eu, com a minha condição ativista, experimento e vivo o que penso e falo, ao ensinar e ao testar as instituições no Estado Democrático de Direito apregoado pela Constituição de 1988. Dessa forma, ganho em segurança na defesa das minhas teses.

Mas eu devo lembrar também, em atenção à pergunta, o Mestre Paulo Freire, um bacharel em direito como eu, chamando atenção para o fato de que 'quem ensina aprende e quem aprende ensina ao aprender'. Penso que aprendi a ser cidadão e tento ser um pouco da mudança que espero ver no mundo como ensinou Gandhi.

Eu estou convencido, com toda a vontade de Constituição que tenho e prego, que é preciso educar para o desenvolvimento da personalidade; que é preciso educar e preparar  as pessoas para a cidadania. Portanto, personalidade e cidadania também são ideias e práticas que se apreendem, não só nos livros, mas no grande livro da vida, nas ruas. Eu aprendo com os inúmeros ativistas, sobremaneira os jovens. Eu ando junto com as pessoas que tratam temas que considero importantes para o amadurecimento de nossa democracia. Eu vivo para a política e não da política.

Os temas do controle social e do combate à corrupção são dois temas intimamente ligados ao desenvolvimento da personalidade e da cidadania. Eles são uma forma de canalizar e exteriorizar a minha liberdade de expressão, esse tão precioso direito humano fundamental, que exercito por ofício, mas que não pertence ao mundo da academia. Nenhuma teoria abarca toda a realidade, portanto, é preciso estar atento aos fatos e ideias que movimentam o desenvolvimento da personalidade e da cidadania e acendem a chama da liberdade. Corrupção e controle social são temas caros para a nossa jovem democracia.

Eu acredito, por fim, que pessoas educadas e desenvolvidas, preparadas para a cidadania, livremente expressam contrariedade à uma realidade corrupta e descontrolada. Essa realidade precisa ser diminuída ou erradicada, para ficar a Pátria livre da corrupção e o tecido social fortalecido. Considero  esse ativismo relevante para o desenvolvimento social, político e economico do nosso País.

De que forma você começou a atuar nesta área? O que te motivou a desenvolver este trabalho (ao lado de ONGs e movimentos sociais)?

Eu sou um ativista desde os tempos de juventude. Eu sou um brasileiro privilegiado, tive acesso ao ensino formal e a uma educação cívica e uma base protestante. Pelo que me recordo, o grêmio estudantil foi minha primeira vinculação oficial à movimentos e grupos sociais institucionalizados, para além da igreja.

O movimento estudantil na época da faculdade, aliado ao processo de redemocratização do país e ao processo constituinte de 1986-1988 foram muito importantes para o preparo da minha cidadania. O fato de ter uma formação jurídica me dá subsídios importantes para instrumentalizar a luta junto com meus pares.

Muita água passou por debaixo da ponte e o atual cenário aponta claramente para a organização e a institucionalização dos movimentos sociais, particularmente capitaneados pelas organizações do terceiro setor, que chamas ONG's.

Eu conheço bem o terceiro setor porque ensino na graduação uma disciplina chamada 'Gestão de Organização Sem Finalidade Lucrativa'. As ONG's tem ocupado uma posição interessante no cenário relacional entre o Estado e a sociedade civil. Em parte porque os sindicatos e os partidos políticos tem capacitado e investido pouco em formação de quadros e lideranças. As ONG's são, indiscutivelmente, uma correia de transmissão importante nesse nosso momento histórico, para agrupar pessoas e para formar pessoas para a luta contra a corrupção.

Portanto, é bastante provável que as ONG's sejam a grande porta de entrada para aqueles e aquelas que acreditam que a sociedade brasileira pode construir-se positivamente diante das dificuldades impostas pela corrupção e pelo baixo controle social.

A minha motivação, portanto, para desenvolver esse ativismo ao lado das ONG's é quase que natural, porque o individualismo não nos faz avançar nesse campo. É a sociedade civil organizada em associações que tem pautado e incluído na agenda governamental o tema da prevenção e do combate à corrupção no Brasil. São as ONG's, portanto, as grandes capitãs desse time que luta pelo fortalecimento da transparencia, combate à corrupção e controle social no Brasil do nosso tempo. Eu sou testemunha ocular do meu tempo. Encontro na AMARRIBO, no MVC, no Fórum de Transparencia e Controle Social, espaços de diálogo, aprendizagem e de educação para o exercício pleno da cidadania. É lá que encontro pessoas dispostas e colaborativas lutando pela prevenção e combate à corrupção.

Em sua opinião, qual a importância do trabalho das ONGs para o combate à corrupção e a promoção da ética no Brasil?

Eu penso que as ONGs tem um papel central na criação e manutenção dos temas da corrupção e da moralidade na agenda governamental e principalmente, na agenda da sociedade civil. O trabalho de prevenção e combate à corrupção tem no tema da ética e da moralidade administrativa o elã necessário para a observação mais apurada desse fenômeno que não é exclusivo do Brasil ou dos tempos modernos. A recente Edição da XV IACC, organizada exemplarmente pela AMARRIBO Brasil em Brasília – DF, nos ensinou muito sobre a matéria.

No plano nacional, a ideia de levar vantagem em tudo permeou a moral individual e também a moral coletiva, formando um legado pouco ético para as gerações do presente, daí os indicadores e os constantes escândalos que presenciamos. As ONGs e os ativistas que encontram nessas entidades o apoio moral e não raro, logístico, para empreenderem em iniciativas que tem cunho muito mais coletivo do que individual, cumprem um papel determinante no combate à corrupção e com isso podem atingir um resultado secundário no imaginário ético do senso comum médio brasileiro.

A formação de pessoas para pensarem o tema da corrupção e o engajamento do próprio governo brasileiro em ações como a parceria para o governo aberto – OGP -, apontam um cenário positivo para que as ONGs continuem a fomentar o tema e a trabalhar na formação de pessoas interessadas em desenvolver a sua personalidade e também a desenvolver a ética dominante nas instituições, que precisam resgatar princípios, normas e valores republicanos.

Você acha que as pessoas estão mais engajadas e conscientes sobre o exercício da cidadania?

Eu penso que as pessoas estão sim mais atentas ao que está acontecendo. Na medida em que as pessoas sanam algumas necessidades materiais e de consumo típica dos emergentes, de qualquer classe, elas começam a se preocupar com as questões que realmente importam.

A consciência sobre as liberdades civis, políticas, religiosas, acaba por gerar situações que levam cada vez mais indivíduos à saber o que significa ser cidadão, ser portador de direitos e deveres. Quando o sujeito percebe que ser cidadão é mais do que consumir, é mais do que votar, ele acaba tomando uma consciência e melhora a sua postura de cidadania, desenvolvendo assim a sua própria personalidade.

Eu sou um otimista, portanto, acredito sim que as pessoas estão mais engajadas e conscientes sobre o exercício da cidadania. Vamos acreditar que a inclusão econômica também resulte em uma inclusão social e política para que nossa sociedade sustente as vigas armadas para o nosso futuro que hoje são edificadas.

O que falta para o Brasil ser mais democrático?

Falta vontade de Constituição. Se nós, brasileiros e brasileiras, acreditássemos que é a Constituição o grande texto de unidade política e institucional do País, começaríamos a cada dia por lembrar que todo poder emana do povo no Estado Democrático de Direito. Para tal lembrança, não precisaríamos ir além do artigo primeiro da Constituição que deixa isso explicitamente posto para todos nós.

Se o Povo brasileiro tivesse um preparo mais efetivo para a cidadania, não aceitaríamos a ingerência, o abuso de poder, o abuso de autoridade, a falta do direito de reclamação diante da corrução e da ineficiência que assola todos os poderes e níveis federativos do nosso País.

O Brasil será o que fizermos dele. Se calamos diante de mando autoritários e ilegítimos, perpetuamos o estado autoritário. A lei da anistia nos faz carregar uma pesada corrente do passado. As comissões da verdade podem ajudar nesse processo, que resultará em mais e melhor democracia. Mas ela só se consolidará quando cada um e cada uma protestar não só diante de desmandos contra o eu, mas também de desmandos contra os outros e todos nós.

A democracia será viva quando tivermos, no nosso cotidiano, o direito achado na rua  e nas instituições. A vontade de Constituição não aceita mando autoritários e ilegítimos. Por isso temos sempre que ter 'vontade de Constituição' e utiliza-la como escudo de defesa, um instrumento para transparencia ativa ou passiva da Administração pública. 

O brasileiro sabe votar?

Sim, o brasileiro sabe votar. Ele é o detentor da soberania política.

Penso que o Estado brasileiro, ineficiente, como não raro é, poderia e deveria utilizar mais e melhor o arsenal tecnológico institucionalizado, ampliando o chamamento popular por meio de outros mecanismos de participação popular, e.g. o referendo e o plebiscito.

Então, quanto mais se vota melhor se vota, penso eu.

Como estamos sendo chamados ao voto há algumas décadas, entendo sim que o povo brasileiro sabe votar. Ele é o grande soberano, logo, só a ele caba acertar ou errar nessa matéria. Desqualificar o voto nunca é bom para a democracia.

Claro que acredito que quando tivermos eleições livres, que garantam a igualdade de condições na disputa – o que só o financiamento exclusivamente público de campanhas poderá mudar e por isso foi a proposta mais votada da Consocial de 2012 -, teremos resultados menos sujeitos à captura individual ou de grupos de interesse que rondam o trilhonário orçamento do País.

Qual sua opinião sobre o Terceiro Setor no Brasil?

Sou um entusiasta da idéia de controle social, logo, um defensor da sociedade civil organizada. A Constituição Cidadã, nos direitos e garantias fundamentais, estabeleceu o direito de associação e vedou a interveniência estatal nessas entidades.

Infelizmente, na medida em que essas entidades dependam dos governos para a sua manutenção e aceitam a ingerência estatal, há uma afronta à Constituição. Isso descredencia e deslegitima o terceiro setor. A corrupção que assola o setor, particularmente diante da ausência de uma implementação clara das normativas já estabelecidas e da omissão legislativa no saneamento de lacunas existentes, tem gerado desconfiança e deslegitimação desse importante campo de organização da sociedade civil, que deve se organizar e se mobilizar.

Mas isso não significa que o terceiro setor está de joelhos. Não. Penso que o terceiro setor tem um importante papel no nosso atual estágio de desenvolvimento político, econômico e social. Se ele se materializar, livre da corrupção e pregando o controle social sobre ele mesmo, então teremos uma chance maior de um amadurecimento democrático saudável e a consolidação de um Estado Democrático de Direito entre nós. 

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‘Não dá para ficar em casa só reclamando’, diz diretor de ONG

Há cerca de 20 anos, Rodrigo Bandeira Luna, 41, largou seu emprego no mercado financeiro para se dedicar ao terceiro setor. Em 2009, criou o Cidade Democrática (cidadedemocratica.org.br), no qual é possível apontar problemas da cidade e discutir soluções.

Desde criança morador da Pompeia, na zona oeste, o administrador de empresas acredita que a cidade possui muita gente capacitada, mas que os paulistanos precisam se unir para lutar por melhorias.

O que falta para São Paulo ser mais democrática?
Falta percebermos que o poder está nas nossas mãos. Não dá para ficar em casa vendo TV, só reclamando da vida e tentando ganhar mais dinheiro. A gente precisa se encontrar no espaço público.

Como vê a disputa entre moradores e skatistas na praça Roosevelt?
O assunto é emblemático do nosso desafio de dialogar. O lance é conversar para estabelecer acordos. É assim que se constrói a vida em sociedade.

Que lugares conseguiram melhorar por conta desse tipo de acordo?
O Morumbi é um dos lugares com mais área verde na cidade. É porque as pessoas falaram: é isso o que a gente quer e vamos lutar para manter assim.

Não tem a ver com a população ali ser mais rica e ter mais influência?
Sim, mas podemos ter influência se soubermos o que queremos. Se você não sabe o que quer, vem um candidato e você diz: "Acho que ele é o mais preparado".

O paulistano não sabe votar?
As pessoas ficam nas redes sociais defendendo seu candidato a todo custo. Mas qual é seu comprometimento com o candidato? Se ele faz algo com que discorda, você deveria dizer: "Votei nesse cara e acho um absurdo ele fazer isso".

O que SP tem de melhor em relação a outras cidades nesse quesito?
São Paulo tem muita competência. Tem gente boa, que tem experiência, habilidade. São Paulo agrega muita gente capacitada para tornar a cidade melhor.

E de pior?
A gente não constrói uma cidade que recebe bem o outro. Somos fechados, provincianos. As pessoas viajam e dizem: "No exterior é que é bom". O que as comparações fazem é nos apequenar.

Fonte: Folha de São Paulo

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AMARRIBO, AMASA e Artigo XIX realizam evento sobre a Lei de Acesso à Informação

A ONG AMASA – Amigos Associados de Analândia – entidade integrante a Rede AMARRIBO Brasil-IFC, em parceria com a AMARRIBO Brasil e a Artigo XIX, realizou no último sábado, em Analândia, um circuito de palestras e debate sobre a Lei de Acesso à Informação.

O evento contou com a presença de aproximadamente 40 pessoas, entre elas o Prefeito de Analândia Rogério Ulson (PMDB), o Presidente da Câmara Rodrigo Balerini (PMDB), representantes de diferentes ONGs da região e moradores da cidade. O Prefeito Rogério falou brevemente e se comprometeu com uma gestão aberta e transparente, parabenizou o trabalho da AMASA e disse que precisa dos cidadãos para fazer a melhor gestão possível.

Os palestrantes convidados foram: Prof. Dr. Marcelo Nerling, do curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP); Lizete Verillo, Diretora de Combate à Corrupção da AMARRIBO Brasil; Alexandre Sampaio, Oficial para Sudamérica da Artigo XIX; Fábio Oliva da ASAJAN e Conselheiro da AMARRIBO Brasil; e Vanderlei Vivaldi, Presidente da AMASA. “2012 foi um ano fantástico para nós, caminhamos muito em acesso à informação” disse Nerling ao abrir sua apresentação. Em seguida ele apresentou a todos o Artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que:

“Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”.

Para Nerling, a partir da promulgação na Lei de Acesso à Informação, o cidadão tem o direito legítimo de ser informado, sobre todos os atos administrativos públicos, das esferas: municipais, estaduais e federais, e aí engloba-se o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

O objetivo do evento foi o de reafirmar a importância do acesso à informação pública, dos órgãos e entidades da Administração Federal que a partir do dia 16 de maio de 2012 passaram a divulgar uma série de informações de maneira proativa em seus respectivos sítios eletrônicos e a receber pedidos de solicitação de acesso a informações por meio dos diversos Serviços de Informações ao Cidadão do acesso à informação pública.

O evento terá continuidade no próximo dia 19, com novos palestrantes.

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Quem tem medo da investigação pelo Ministério Público?

“Proibir o MP de investigar é uma derrota para a sociedade e uma vitória para os criminosos.”

Qualquer jurista estrangeiro ficará bastante surpreso ao ser informado de que está sendo debatido no Brasil se o Ministério Público pode ou não realizar investigações criminais. EUA, Itália, Chile, Alemanha e Portugal têm como clara a possibilidade de que o MP pratique, diretamente, atos de investigação.

Até mesmo em lugares que ainda adotam um modelo processual bem distinto do brasileiro, como França e Espanha, a tendência atual é a de se conferir mais poderes ao MP. Pode-se dizer, portanto, que a polêmica é autenticamente brasileira.

As leis que regulam o funcionamento do Ministério Público (LC nº 75/93 e Lei nº 8.625/93) – e preveem a realização de diligências investigatórias – têm quase vinte anos de vigência. Nosso Código de Processo Penal, que já estabelecia o mesmo (Art. 47), tem mais de meio século. Desde a Constituição de 1988, que fortaleceu e consolidou o papel do MP em nosso sistema jurídico, não houve nenhuma modificação substancial na legislação sobre o tema.

Se na lei nada foi alterado, o que certamente mudou nos últimos anos foi o fato de que o MP brasileiro passou a desenvolver seus trabalhos com cada vez mais eficiência, possibilitando que fossem processadas e eventualmente condenadas pessoas que, antes, mantinham-se intocadas pela Justiça.

Embora a realização de investigações criminais diretamente pelo MP não deva ser a regra – no dia-a-dia, as polícias têm mais maior estrutura para isso, além de ser essa a sua função primordial – não se pode impedir que, em determinados casos, o MP investigue, sobre pena de que crimes permaneçam impunes.

Uma primeira vantagem na investigação direta do MP é o ganho de qualidade e rapidez, considerando que a prova será obtida diretamente por aquele que avaliará sua pertinência e legitimidade para o processo. Sob a direção imediata do MP, serão produzidas somente as provas que realmente permitam a condenação dos culpados (ou o arquivamento dos autos, caso se verifique a inocência do investigado). Além de zelar pela regularidade da prova, evitando nulidades que muitas vezes levam a se perder investigações importantíssimas, é dever do MP assegurar o respeito aos direitos do investigado, evitando abusos infelizmente ainda rotineiros em investigações feitas pelas polícias.

Outra vantagem da investigação conduzida pelo MP reside na independência funcional dos seus membros, um princípio constitucional que os preserva de ingerências hierárquicas ou externas. Promotores e procuradores devem obediência à lei e a ninguém mais. Isso não ocorre com as autoridades policiais, que são organizadas hierarquicamente, subordinadas ao Poder Executivo e fiscalizadas pelo MP. Não poderia ser diferente; é contra os pilares da nossa democracia conferir independência a instituições armadas.

A independência funcional dos promotores de Justiça e procuradores da República permitem que realizem de forma eficaz investigações sobre determinados crimes que, em razão da natureza dos fatos ou dos interesses e das pessoas envolvidas, poderiam da mesma forma não ser investigados por outras autoridades. São exemplo disso as investigações sobre ilícitos envolvendo policiais, políticos ou empresários com grande poder e influência sobre autoridades públicas. Existem milhares de investigações como essas Brasil afora, pelos ilícitos mais variados, desde crimes cometidos por grupos de extermínio até fraudes em licitações. Todas poderão ser anuladas caso se entenda que o MP não pode investigar, e quem estiver preso ganhará a liberdade.

Há diversos argumentos jurídicos para que o MP investigue. O maior fundamento, entretanto, é a necessidade de que sejam debelados os alarmantes índices de criminalidade e impunidade no Brasil. Proibir o MP de investigar é uma derrota para a sociedade e uma vitória para os criminosos.

Por Bruno Calabrich, mestre em direitos e garantias fundamentais pela FDV, professor da Escola Superior do Ministério Público da União, procurador da República e membro do Grupo de Controle Externo da Atividade Policial do MPF em Brasília

Fonte: Congresso em Foco

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Gol da corrupção

É preciso uma defesa contundente do papel do Ministério Público.

Aprovada em comissão especial da Câmara dos Deputados, a proposta de emenda constitucional que restringe os poderes de investigação do Ministério Público é um golaço para o time da corrupção. Ainda não foi aprovada em plenário, mas deve ser encarada como um grave entrave ao combate à corrupção.

É preciso refletir sobre os riscos de uma proposta que visa a cercear, tolher e manietar a instituição que, de forma mais eficaz e notória, combate a crônica impunidade reinante no País. De fato, o Ministério Público, em colaboração com a Polícia Federal, tem conseguido esclarecer diversos casos de corrupção.

Será que o Ministério Público, que é quem forma as convicções sobre a autoria do crime, não pode fazer diligências para ele mesmo se convencer? Está em andamento um movimento para algemar a instituição. Se o Congresso excluir o MP do processo investigatório, o reflexo imediato será o questionamento sobre a legalidade e até a completa anulação de importantes apurações.

O papel do Ministério Público, guardadas as devidas proporções, se aproxima, e muito, da dimensão social da imprensa. Fatos recorrentes evidenciam a importância da informação jornalística e da ação do Ministério Público como instrumento de realização da justiça. Alguém imagina, por exemplo, que o julgamento do mensalão teria sido possível sem a pressão de um autêntico jornalismo de denúncia? O Ministério Público, muitas vezes, é acionado por fundamentada apuração jornalística. É o ponto de partida. Ninguém discute que o Brasil tem avançado graças ao esforço dos meios de comunicação, mas também graças ao trabalho do Ministério Público. A informação é a base da sociedade democrática. Precisamos, sem dúvida, melhorar os controles éticos da notícia. Consegue-se tudo isso não com censura ou limitações informativas, mas com mais informação e com mais pluralismo.

O mesmo se pode dizer do trabalho do Ministério Público. Como escreveu a jornalista Rosane de Oliveira, respeitada colunista de política do jornal “Zero Hora”, “em um país em que a polícia carece de recursos para investigar homicídios, tráfico de drogas, roubo de carros e outros crimes, não se compreende a briga pela exclusividade na investigação, típica disputa de beleza entre as corporações. Em vez de as instituições unirem forças, tenta-se com essa emenda constitucional impedir o Ministério Público de investigar. Mais fácil é entender o sucesso do lobby no Congresso: boa parte da classe política não suporta os promotores com sua mania de investigar denúncias de mau uso do dinheiro público”.

Esperemos que o Congresso não decida de costas para a cidadania. É preciso que a sociedade civil, os juristas, os legisladores, você, caro leitor, e todos os que têm uma parcela de responsabilidade na formação da opinião pública façam chegar aos parlamentares, com serenidade e firmeza, um clamor contra a impunidade e uma defesa contundente do papel do Ministério Público no combate à corrupção.

Por: Carlos Alberto Di Franco
Fonte: O Globo

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